Antonio
Carlos Egypto
TUDO QUE AMAMOS PROFUNDAMENTE (Everything we loved). Nova
Zelândia, 2014. Direção e Roteiro: Max
Currie. Com Ben Clarkson, Paul Glover, Sophie
Hambleton. 101 min.
Sequestro de crianças é um crime abominável. Por ser uma monstruosidade, é natural que
consideremos os que cometem esse crime verdadeiros monstros. Mas o que será que move essas pessoas? Crises pessoais, carências, podem explicar
alguma coisa? Que sentimentos têm? Afinal, como entender tal barbaridade?
O diretor e roteirista da Nova Zelândia, Max Currie,
em seu primeiro longa, acredita que conseguiu entender o que se passa na cabeça
desses criminosos e construiu uma história para nos ajudar a compreendê-los. O que, evidentemente, não significa validar
ou aceitar os seus atos.
A trama que o cineasta cria é bem construída. Vai nos mostrando pouco a pouco o que
aconteceu e o que está em jogo, centrado na reação e sentimentos dos
personagens: um homem, uma mulher, uma criança.
Por meio do que expressam, falam e fazem (ou deixam de fazer), o mundo
em que eles vivem se torna mais claro e concebível. Por um momento, pode-se suspender o
julgamento e entender o que se passa no psiquismo desses personagens.
Um dos maiores trunfos do filme é o desempenho dos
atores. Ressalte-se que a criança, um garoto
de 5 anos, é uma graça, de uma espontaneidade e expressividade muito grandes. Já justificaria ir ver o filme. Mas ele tem outros méritos.
A reflexão que a narrativa propõe é psicologicamente
rica. Mostra-nos que o mundo interno das
pessoas é surpreendente e que ações terríveis podem estar embasadas em afetos
positivos, boas intenções e até mesmo em genuínas relações amorosas. Ou seja, o bem e o mal estão dentro de nós,
imbricados de um modo que, às vezes, deixa tênues seus limites.
Para um estreante em longas, Max Currie revela-se
sagaz e muito competente. O seu filme de
estreia toca em pontos importantes da vida emocional, fazendo uso de
personagens ligados à magia para nos falar de ilusões que podem nos enganar a
qualquer hora e a qualquer tempo.
“Tudo que Amamos Profundamente” foi um dos filmes
mais bem votados pelo público da 38ª. Mostra Internacional de Cinema de São
Paulo, na competição de novos diretores.
Merecidamente.
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