quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O SEGREDO DAS ÁGUAS


Antonio Carlos Egypto




O SEGREDO DAS ÁGUAS (Fatatsume No Mado).  Japão, 2014.  Direção e roteiro: Naomi Kawase.  Com Nijïro Murakami, Jun Yoshinaga, Miyuki Matsuda, Tetta Sugimoto.  119 min.


“O Segredo das Águas” é um filme delicado e, ao mesmo tempo, tenso, que evoca a natureza por meio de imagens lindas e impactantes da força do mar.  Ondas gigantescas se alternam com alguns momentos serenos desse personsem especial do filme de Naomi Kawase, que é o mar. Já foi a terra, em “A Floresta dos Lamentos”, de 2007.  A natureza é a inspiração maior do seu trabalho cinematográfico.  E, por meio dela e da forma como as pessoas interagem com o mundo, nota-se uma dimensão ou preocupação que podemos chamar de espiritual, ligada ao budismo.   Consequentemente, vida e morte dão o tom a todas as cenas do filme.

Dois adolescentes descobrindo a vida e o amor têm de lidar com a morte.  Ele, ao encontrar um homem nu morto no mar, enquanto vive uma relação de ausências e distanciamento com a mãe e sente falta do pai, que mora em Tóquio e para onde ele vai, quando pode.  Estamos na ilha Amami Oshima, no Japão, um local que remete à conservação de tradições milenares. 




Ela vive intensamente a doença e possibilidade de morte de sua mãe, e até já pressente sua falta.  No entanto, descobre que essa mãe é xamã, portanto, depositária de mistérios ancestrais e que está entre os humanos e os deuses.  Os xamãs também morrem?  Mas como ficará o relacionamento com eles, ou seja, com a própria mãe, após a morte? 

Como se vê, temas filosófico-religiosos se mesclam a questões existenciais.  Em se tratando dos adolescentes, também há as questões sexuais e amorosas.  Mas para encará-las será preciso superar barreiras internas e julgamentos que engessam ações.  Um tufão – sempre a natureza – será o elemento deflagrador do amadurecimento, da compreensão e do afeto.  Em que pesem todas as turbulências, e talvez por causa delas, precisamos aprender a viver em paz conosco e com o mundo ao redor, como diz a diretora Naomi Kawase.

Uma beleza de filme, em que o ritmo lento dos orientais, especialmente aqueles que vivem numa ilha tranquila e afastada dos grandes centros urbanos, e as sutilezas são as marcas da forma de narrar dessa talentosa diretora japonesa, nascida em 1969, já admirada pelos frequentadores habituais da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.  O bom é saber que, além de ser exibido na 38ª. Mostra, o filme será em breve exibido nos cinemas, em programação regular.



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