domingo, 26 de outubro de 2014

TUDO QUE AMAMOS PROFUNDAMENTE


Antonio Carlos Egypto



  
TUDO QUE AMAMOS PROFUNDAMENTE (Everything we loved).  Nova Zelândia, 2014.  Direção e Roteiro: Max Currie.  Com Ben Clarkson, Paul Glover, Sophie Hambleton.  101 min.


Sequestro de crianças é um crime abominável.  Por ser uma monstruosidade, é natural que consideremos os que cometem esse crime verdadeiros monstros.  Mas o que será que move essas pessoas?  Crises pessoais, carências, podem explicar alguma coisa?  Que sentimentos têm?  Afinal, como entender tal barbaridade?

O diretor e roteirista da Nova Zelândia, Max Currie, em seu primeiro longa, acredita que conseguiu entender o que se passa na cabeça desses criminosos e construiu uma história  para nos ajudar a compreendê-los.  O que, evidentemente, não significa validar ou aceitar os seus atos.




A trama que o cineasta cria é bem construída.  Vai nos mostrando pouco a pouco o que aconteceu e o que está em jogo, centrado na reação e sentimentos dos personagens: um homem, uma mulher, uma criança.  Por meio do que expressam, falam e fazem (ou deixam de fazer), o mundo em que eles vivem se torna mais claro e concebível.  Por um momento, pode-se suspender o julgamento e entender o que se passa no psiquismo desses personagens.

Um dos maiores trunfos do filme é o desempenho dos atores.  Ressalte-se que a criança, um garoto de 5 anos, é uma graça, de uma espontaneidade e expressividade muito grandes. Já justificaria ir ver o filme.  Mas ele tem outros méritos.




A reflexão que a narrativa propõe é psicologicamente rica.  Mostra-nos que o mundo interno das pessoas é surpreendente e que ações terríveis podem estar embasadas em afetos positivos, boas intenções e até mesmo em genuínas relações amorosas.  Ou seja, o bem e o mal estão dentro de nós, imbricados de um modo que, às vezes, deixa tênues seus limites.

Para um estreante em longas, Max Currie revela-se sagaz e muito competente.  O seu filme de estreia toca em pontos importantes da vida emocional, fazendo uso de personagens ligados à magia para nos falar de ilusões que podem nos enganar a qualquer hora e a qualquer tempo.

“Tudo que Amamos Profundamente” foi um dos filmes mais bem votados pelo público da 38ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na competição de novos diretores.  Merecidamente.




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