terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A GRANDE BELEZA

                        
Antonio Carlos Egypto





A GRANDE BELEZA (La Grande Bellezza).  Itália, 2013.  Direção e roteiro: Paolo Sorrentino.  Com Toni Servillo, Carlo Verdone, Sabrina Ferilli, Carlo Buccirosso. 142 min.



O escritor e jornalista Jap Gambardella (Toni Servillo) chega aos 65 anos de idade, tendo usufruído do melhor que a vida mundana de Roma tem para oferecer.  Fez grande sucesso com um romance chamado O Aparelho Humano, há décadas, e não escreveu mais nada.  Pelo menos, não concluiu ou publicou outro livro.

Viveu até aqui uma vida de festas, luxos, privilégios, como uma espécie de rei da cena romana, junto a aristocratas, novos ricos, políticos, criminosos, nobres decadentes, artistas e intelectuais ou pretendentes a tal. E teve sempre lindas mulheres à disposição.



Mas sempre é tempo de reavaliar as coisas, relembrar momentos da vida anteriores à epopeia romana, pequenos romances da juventude, coisas que ficaram para trás.  Assim como é o momento de ver no que resultou todo esse percurso de encontros sociais e pessoais que envolvem perigos, aventuras e a tentativa de se apossar da própria vida. Enfim, nosso personagem vive, experimenta, relembra, critica, reflete, planeja, pensa para onde ir. Quem sabe, finalmente, voltar a escrever. Ter novamente o que dizer. 

“A Grande Beleza” segue esse personagem inteligente, perspicaz, um tanto cínico e entediado, mostrando a sua vida como um caleidoscópio ou um grande painel de eventos e situações, passadas ou presentes, filtradas por seus pensamentos e sentimentos.



Como a vida de Jap Gambardella se confunde com a cidade de Roma, suas diversas fases e mudanças, seu declínio e a fauna de personagens que a habita e por ela circula, o filme é também um painel da cidade eterna e de suas histórias, do passado e do presente.

Paolo Sorrentino nos apresenta um mosaico de cenas e imagens que, com beleza e leveza, vão revelando uma realidade não objetiva.  Vamos conhecendo por dentro a trajetória do personagem e da cidade, aquilo que é percebido, sentido, experimentado pelo protagonista. Conhecemos seu desencanto com as coisas que, afinal, parecem não ter levado a lugar nenhum.  Muita festa, badalação, moda e riqueza e pouca substância existencial, pouca plenitude.  O que será, então, que o sucesso e a fama podem oferecer às pessoas?



O filme traz um tanto de influência do grande cinema italiano do passado, em especial, do mestre Fellini.  A forma como as cenas se dispõem e se complementam partindo de um universo subjetivo remete ao famoso “8 1/2” felliniano.  Sorrentino se inspira em ricas fontes e faz um filme à altura do cinema que admira. E conta com um ator notável como Toni Servillo para viver o personagem central. A fita foi escolhida pela Itália para representar o país nas indicações ao Oscar de filme estrangeiro. Uma ótima escolha, o filme é um concorrente de peso. “A Grande Beleza”, principal destaque no 9º. Festival de Cinema Italiano no Brasil e um dos mais apreciados do Festival do Rio 2013, deve entrar em carreira normal nos cinemas logo a seguir.


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