Antonio Carlos Egypto
A GRANDE BELEZA (La Grande Bellezza). Itália, 2013.
Direção e roteiro: Paolo Sorrentino.
Com Toni Servillo, Carlo Verdone, Sabrina Ferilli, Carlo Buccirosso. 142
min.
O escritor e jornalista Jap
Gambardella (Toni Servillo) chega aos 65 anos de idade, tendo usufruído do
melhor que a vida mundana de Roma tem para oferecer. Fez grande sucesso com um romance chamado O Aparelho
Humano, há décadas, e não escreveu mais nada. Pelo menos, não concluiu ou publicou outro
livro.
Viveu até aqui uma vida de festas,
luxos, privilégios, como uma espécie de rei da cena romana, junto a
aristocratas, novos ricos, políticos, criminosos, nobres decadentes, artistas e
intelectuais ou pretendentes a tal. E teve sempre lindas mulheres à disposição.
Mas sempre é tempo de reavaliar as
coisas, relembrar momentos da vida anteriores à epopeia romana, pequenos
romances da juventude, coisas que ficaram para trás. Assim como é o momento de ver no que resultou
todo esse percurso de encontros sociais e pessoais que envolvem perigos,
aventuras e a tentativa de se apossar da própria vida. Enfim, nosso personagem
vive, experimenta, relembra, critica, reflete, planeja, pensa para onde ir. Quem
sabe, finalmente, voltar a escrever. Ter novamente o que dizer.
“A Grande Beleza” segue esse
personagem inteligente, perspicaz, um tanto cínico e entediado, mostrando a sua
vida como um caleidoscópio ou um grande painel de eventos e situações, passadas
ou presentes, filtradas por seus pensamentos e sentimentos.
Como a vida de Jap Gambardella se
confunde com a cidade de Roma, suas diversas fases e mudanças, seu declínio e a
fauna de personagens que a habita e por ela circula, o filme é também um painel
da cidade eterna e de suas histórias, do passado e do presente.
Paolo Sorrentino nos apresenta um
mosaico de cenas e imagens que, com beleza e leveza, vão revelando uma
realidade não objetiva. Vamos conhecendo
por dentro a trajetória do personagem e da cidade, aquilo que é percebido,
sentido, experimentado pelo protagonista. Conhecemos seu desencanto com as
coisas que, afinal, parecem não ter levado a lugar nenhum. Muita festa, badalação, moda e riqueza e
pouca substância existencial, pouca plenitude.
O que será, então, que o sucesso e a fama podem oferecer às pessoas?
O filme traz um tanto de
influência do grande cinema italiano do passado, em especial, do mestre
Fellini. A forma como as cenas se
dispõem e se complementam partindo de um universo subjetivo remete ao famoso “8
1/2” felliniano. Sorrentino se inspira
em ricas fontes e faz um filme à altura do cinema que admira. E conta com um
ator notável como Toni Servillo para viver o personagem central. A fita foi
escolhida pela Itália para representar o país nas indicações ao Oscar de filme
estrangeiro. Uma ótima escolha, o filme é um concorrente de peso. “A Grande
Beleza”, principal destaque no 9º. Festival de Cinema Italiano no Brasil e um
dos mais apreciados do Festival do Rio 2013, deve entrar em carreira normal nos
cinemas logo a seguir.
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