quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O MAR AO AMANHECER

                        
Antonio Carlos Egypto



O MAR AO AMANHECER (La Mer à l’Aube).  Alemanha, França, 2011.  Direção e roteiro: Volker Schlöndorff.  Com Léo-Paul Salmain, Marc Barbé, Ulrich Matthes, Jean-Marc Roulot.  90 min.


Um grande filme, muitas vezes, nos conquista pelas inovações narrativas que promove ou até pela ausência de qualquer história.  É como o escritor, por exemplo, o cronista, que é capaz de escrever sobre nada.  Seu talento salta à vista.

Um grande filme pode nos trazer uma beleza plástica que impacta ou, ao contrário, exibir a pobreza e a sujeira de modo a nos envolver, chocar, talvez, pelo uso hábil da câmera.  Atores e atrizes excepcionais também podem alavancar muito uma película.

Nada disso, porém, exclui o prazer que podemos ter em ver uma boa história sendo contada pelo cinema.  Um tema importante, um bom roteiro, o cuidado visual, boas interpretações, cabem muito bem numa trama contada com começo, meio e fim. A   história pode se resumir a seguir os modelos do gênero cinematográfico a que pertence utilzando-se de seus artifícios e ficando previsível. Mas não é o que acontece aqui.



 “O Mar ao Amanhecer” é um filme simples na aparência, de narrativa tradicional, mas poderoso no impacto que causa, na capacidade de nos provocar tanto o sentimento quanto a reflexão.  Mérito do experiente e competente cineasta Volker Schlöndorff, de filmes importantes como “O Jovem Törless”, de 1965, “Um Amor de Swann”, de 1983, e “O Tambor”, de 1979, que levou a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de filme estrangeiro.

Schlöndorff fez parte do chamado novo cinema alemão dos anos 1970, 1980, que nos revelou diretores como Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog, Wim Wenders.  Uma penca de talentos tentando resgatar a história alemã, suas marcas profundas e as reflexões necessárias à sua superação, por meio do cinema.



No caso deste, “O Mar ao Amanhecer”, estamos em outubro de 1941.  No 18º. mês de ocupação da França pelos nazistas, jovens comunistas da Resistência matam um oficial alemão.  A retaliação exigida por Hitler é a morte de 150 prisioneiros franceses.  Caberá aos colaboracionistas escolher entre os comunistas quem vai para o fuzilamento.  O que pode envolver um jovem apaixonado, prestes a se casar e em vias de ser solto.  O seu drama e o dos demais envolvidos tem uma força capaz de nos engasgar e fazer marejar os olhos.  A questão política e humanitária mantém-se em primeiro plano.  Um filme de um cineasta com talento cinematográfico e lucidez política que vale a pena ver.


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