Antonio
Carlos Egypto
O cinema latino-americano teve presença significativa
na 37ª. Mostra internacional de Cinema de São Paulo. Consegui ver vários dos filmes programados
para esta edição. Da Argentina, muito bom foi “Wakolda”, de Lucía Puenzo, sobre
uma família na Patagônia que conviveu, sem saber, com Joseph Mengele, nos anos
1960. Ele morreria em 1976 no Brasil, em
Bertioga. É uma história bem
contada. “El Crítico”, de Hermán
Guerschuny, é uma comédia que brinca com a profissão de crítico de cinema. É divertida, mas irregular. “Habi, a estrangeira”, de Maria Florencia
Álvarez, deixa a desejar, ao contar a história de uma adolescente que resolve
assumir uma identidade muçulmana. O
cinema argentino, que tem sido apresentado regularmente no circuito comercial
brasileiro, não chegou a ter grande destaque desta vez na Mostra.
Wakolda |
Do Uruguai veio “O Militante”, de Manolo Nieto, que
recebeu prêmio especial da crítica, mas que, a meu ver, não chega a lugar
nenhum. Nem conta uma história, nem se aprofunda num clima que nos faça
refletir de fato sobre alguma coisa importante.
De Cuba, vi “La Partida”, de Antonio Hens, um pouco
mais ousado e com alguma inventividade, ao tratar de um relacionamento
homossexual, em meio a carências sociais e familiares intensas.
“Casadentro”, de Joanna Lombardi, foi o filme do Peru
e este me convenceu bem mais, ao falar de quase nada, ou seja, da rotina de uma
mulher de 81 anos dentro de casa, às voltas com a cachorra e recebendo uma
visita da família da filha. Onde,
aparentemente, nada acontece pode-se compreender o envelhecimento, as marcas
emocionais do passado e o significado da rotina na sobrevivência psíquica.
Casadentro |
O melhor da América Latina nesta Mostra, porém, veio
do norte: do México. “Las Horas Muertas”,
de Aaron Fernandez, também aborda uma situação de espera, onde pouca coisa
acontece. Passa-se num motel, onde uma
mulher aguarda seu amante e se encontra com um adolescente que cuida do
estabelecimento, enquanto seu tio se restabelece de uma enfermidade. Eles vão se descobrindo, se relacionando,
lidando com suas fantasias e esperanças, longe da cidade, num local
apropriadamente isolado. O clima é tudo
nesse filme.
La Jaula de Oro |
Do México nos veio, também, “La Jaula de Oro”, de
Diego Quemada-Diez, prêmio da crítica como melhor filme e menção honrosa de
ficção pelo júri . O filme acompanha a jornada longa e perigosa de alguns
adolescentes que saem de favelas da Guatemala e atravessam o México, em busca
de chegar a Los Angeles, nos Estados Unidos.
À espera de uma espécie de paraíso que possa compensar o inferno de tal
travessia. A crueldade, a ganância e a
sordidez humanas ficam mais evidentes diante de jovens migrantes ilegais que
ainda ousam acreditar e sonhar. Grande
filme, que deve estrear brevemente nos cinemas.
Como se pode ver, se o cinema latino-americano não
foi a grande expressão cinematográfica da atualidade, esteve longe de
decepcionar.
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