Antonio Carlos Egypto
O MAR AO AMANHECER (La Mer à l’Aube). Alemanha,
França, 2011. Direção e roteiro: Volker
Schlöndorff. Com Léo-Paul Salmain, Marc Barbé, Ulrich
Matthes, Jean-Marc Roulot. 90 min.
Um grande filme, muitas vezes, nos conquista pelas
inovações narrativas que promove ou até pela ausência de qualquer
história. É como o escritor, por
exemplo, o cronista, que é capaz de escrever sobre nada. Seu talento salta à vista.
Um grande filme pode nos trazer uma beleza plástica
que impacta ou, ao contrário, exibir a pobreza e a sujeira de modo a nos
envolver, chocar, talvez, pelo uso hábil da câmera. Atores e atrizes excepcionais também podem
alavancar muito uma película.
Nada disso, porém, exclui o prazer que podemos ter em
ver uma boa história sendo contada pelo cinema.
Um tema importante, um bom roteiro, o cuidado visual, boas
interpretações, cabem muito bem numa trama contada com começo, meio e fim. A história pode se resumir a seguir os modelos
do gênero cinematográfico a que pertence utilzando-se de seus artifícios e
ficando previsível. Mas não é o que acontece aqui.
“O Mar ao
Amanhecer” é um filme simples na aparência, de narrativa tradicional, mas
poderoso no impacto que causa, na capacidade de nos provocar tanto o sentimento
quanto a reflexão. Mérito do experiente
e competente cineasta Volker Schlöndorff, de filmes importantes como “O Jovem
Törless”, de 1965, “Um Amor de Swann”, de 1983, e “O Tambor”, de 1979, que
levou a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de filme estrangeiro.
Schlöndorff fez parte do chamado novo cinema alemão
dos anos 1970, 1980, que nos revelou diretores como Rainer Werner Fassbinder,
Werner Herzog, Wim Wenders. Uma penca de
talentos tentando resgatar a história alemã, suas marcas profundas e as
reflexões necessárias à sua superação, por meio do cinema.
No caso deste, “O Mar ao Amanhecer”, estamos em
outubro de 1941. No 18º. mês de ocupação
da França pelos nazistas, jovens comunistas da Resistência matam um oficial
alemão. A retaliação exigida por Hitler
é a morte de 150 prisioneiros franceses.
Caberá aos colaboracionistas escolher entre os comunistas quem vai para
o fuzilamento. O que pode envolver um
jovem apaixonado, prestes a se casar e em vias de ser solto. O seu drama e o dos demais envolvidos tem uma
força capaz de nos engasgar e fazer marejar os olhos. A questão política e humanitária mantém-se em
primeiro plano. Um filme de um cineasta
com talento cinematográfico e lucidez política que vale a pena ver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário