Antonio Carlos Egypto
AMOR (Amour).
Áustria/França, 2012. Direção e
roteiro: Michael Haneke. Com
Jean-Louis Trintignant, Emmanuele Riva, Isabelle Huppert, Alexandre
Tharaud. 127 min.
Depois
de “A Fita Branca”, de 2009, temos agora a oportunidade de assistir a “Amor”,
do diretor austríaco Michael Haneke.
Ambos os filmes faturaram a Palma de Ouro em Cannes. “Amor” já conquistou o Globo de Ouro 2013 de
melhor filme em língua estrangeira, foi o grande vencedor do prêmio do cinema
europeu, do círculo de críticos de Nova York e de Los Angeles. E recebeu 5 indicações para o Oscar 2013,
inclusive melhor filme e melhor filme em língua estrangeira. Impressionante, não?
O filme
focaliza um casal de octogenários que se amam e vivem juntos há muitos anos:
Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuele Riva). Os dois, ex-professores de música, pessoas
cultas e independentes, vivendo um relacionamento maduro e equilibrado. Até que Anne sofre um derrame e seu estado de
saúde se deteriora progressivamente.
Acompanhamos passo a passo o dia-a-dia deles, antes disso e, principalmente,
a partir daí.
É duro
e penoso acompanhar o sofrimento de Anne pela evolução da doença e o de
Georges, se permitindo exigir até o limite, em nome do amor que sente por
ela. Como administrar o sofrimento de
alguém que se ama? Não é fácil. Principalmente, porque todos os detalhes
desse convívio dolorido parecem fazer parte da película. Impossível não se comover.
“Amor”
me faz lembrar um livro de Simone de Beauvoir que li há um bom tempo: “A
Cerimônia do Adeus”. Nele, Simone também
detalhava os cuidados que dedicou a Jean-Paul Sartre, quando a deterioração
física se impôs ao grande amor da vida dela e o grande filósofo que tanto nos
influenciou, com sua inteligência e seu brilho intelectual. Ou seja, o declínio físico se impõe a todos,
quando não é acompanhado do mesmo processo na mente, o que é ainda mais triste.
Meu
amigo e crítico de cinema, Luciano Ramos, comentou ao final da sessão em que
vimos o filme: “Esse devia ser proibido a maiores de 60 anos”. Pois é.
Quem está mais distante, no tempo, das doenças do envelhecimento, e da
morte, pode se defender melhor psicologicamente do que vê. Mesmo assim, não deixará de se envolver, já
que provavelmente convive com pessoas mais velhas que ama: pais, avós,
professores, amigos. Quem já está na
chamada Terceira Idade tenderá a
encarar com mais peso tudo isso. Mesmo
que goze de saúde plena e tenha companheiros na mesma condição. Afinal, a vida é tão maravilhosa porque a
morte é certa. É ou não é?
O
trabalho de Michael Haneke é reconhecidamente de alta qualidade artística e sem
concessões ao gosto comercial. Não
facilita nem alivia para o espectador.
Que seja tão reconhecido por quem entende e gosta de cinema, e tão
premiado, é algo a ser festejado. Ele é
um dos grandes mestres do cinema, na atualidade. Pesado e pessimista, mas absolutamente
brilhante.
Os
atores do filme são uma atração à parte.
Jean-Louis Trintignant, de volta ao cinema por insistência do diretor, é
um talento mais do que conhecido e admirado.
Emmanuele Riva, atriz de “Hiroshima Mon Amour”, de 1959, de Alain
Resnais, aos 85 anos, está ótima num papel difícil, que exige muito dela. E ainda tem Isabelle Huppert, no papel de
filha, sempre em boa forma. Quem pode
querer mais?
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