quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

AMOR

                                    
Antonio Carlos Egypto




AMOR (Amour).  Áustria/França, 2012.  Direção e roteiro: Michael Haneke.  Com Jean-Louis Trintignant, Emmanuele Riva, Isabelle Huppert, Alexandre Tharaud.  127 min.

Depois de “A Fita Branca”, de 2009, temos agora a oportunidade de assistir a “Amor”, do diretor austríaco Michael Haneke.  Ambos os filmes faturaram a Palma de Ouro em Cannes.  “Amor” já conquistou o Globo de Ouro 2013 de melhor filme em língua estrangeira, foi o grande vencedor do prêmio do cinema europeu, do círculo de críticos de Nova York e de Los Angeles.  E recebeu 5 indicações para o Oscar 2013, inclusive melhor filme e melhor filme em língua estrangeira.  Impressionante, não?

O filme focaliza um casal de octogenários que se amam e vivem juntos há muitos anos: Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuele Riva).  Os dois, ex-professores de música, pessoas cultas e independentes, vivendo um relacionamento maduro e equilibrado.  Até que Anne sofre um derrame e seu estado de saúde se deteriora progressivamente.  Acompanhamos passo a passo o dia-a-dia deles, antes disso e, principalmente, a partir daí.



É duro e penoso acompanhar o sofrimento de Anne pela evolução da doença e o de Georges, se permitindo exigir até o limite, em nome do amor que sente por ela.  Como administrar o sofrimento de alguém que se ama?  Não é fácil.  Principalmente, porque todos os detalhes desse convívio dolorido parecem fazer parte da película.  Impossível não se comover.

“Amor” me faz lembrar um livro de Simone de Beauvoir que li há um bom tempo: “A Cerimônia do Adeus”.  Nele, Simone também detalhava os cuidados que dedicou a Jean-Paul Sartre, quando a deterioração física se impôs ao grande amor da vida dela e o grande filósofo que tanto nos influenciou, com sua inteligência e seu brilho intelectual.  Ou seja, o declínio físico se impõe a todos, quando não é acompanhado do mesmo processo na mente, o que é ainda mais triste.

Meu amigo e crítico de cinema, Luciano Ramos, comentou ao final da sessão em que vimos o filme: “Esse devia ser proibido a maiores de 60 anos”.  Pois é.  Quem está mais distante, no tempo, das doenças do envelhecimento, e da morte, pode se defender melhor psicologicamente do que vê.  Mesmo assim, não deixará de se envolver, já que provavelmente convive com pessoas mais velhas que ama: pais, avós, professores, amigos.  Quem já está na chamada Terceira Idade tenderá a encarar com mais peso tudo isso.  Mesmo que goze de saúde plena e tenha companheiros na mesma condição.  Afinal, a vida é tão maravilhosa porque a morte é certa.  É ou não é?




O trabalho de Michael Haneke é reconhecidamente de alta qualidade artística e sem concessões ao gosto comercial.  Não facilita nem alivia para o espectador.  Que seja tão reconhecido por quem entende e gosta de cinema, e tão premiado, é algo a ser festejado.  Ele é um dos grandes mestres do cinema, na atualidade.  Pesado e pessimista, mas absolutamente brilhante.

Os atores do filme são uma atração à parte.  Jean-Louis Trintignant, de volta ao cinema por insistência do diretor, é um talento mais do que conhecido e admirado.  Emmanuele Riva, atriz de “Hiroshima Mon Amour”, de 1959, de Alain Resnais, aos 85 anos, está ótima num papel difícil, que exige muito dela.  E ainda tem Isabelle Huppert, no papel de filha, sempre em boa forma.  Quem pode querer mais?

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