sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Django Livre




Django Livre (Django Unchained). Estados Unidos, 2012. Direção e roteiro: Quentin Tarantino. Com: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, Samuel L. Jackson. 165 minutos



Tatiana Babadobulos


Um faroeste ambientado no sul dos Estados Unidos, dois anos antes da Guerra Civil (1858), época na qual os negros escravos ainda não haviam sido libertados. É a história de um escravo negro, que consegue a sua alforria, o tema do longa-metragem “Django Livre” (“Django Unchained”), que estreia nesta sexta-feira, 18.

Escrito e dirigido por Quentin Tarantino, o longa chega aos cinemas brasileiros depois de ganhar o Globo de Ouro nas categorias Melhor Roteiro Original e Ator Coadjuvante (Christoph Waltz). Na categoria de Melhor Diretor, Tarantino perdeu para Ben Affleck, que dirigiu “Argo”.

Mas não tem nada, não. “Django Livre” vale a pena ser visto não apenas pelos fãs do diretor, que vem conquistando cada vez mais pessoas desde que ele mostrou ao mundo “Pulp Fiction – Tempos de Violência”, em 1994. De lá pra cá, ele filmou duas partes de “Kill Bill” e veio com mais vontade ainda com “Bastardos Inglórios”, em 2010.



O Django da história é Jamie Foxx, o sexto escravo da fila de sete que é comprado e libertado por um dentista alemão, que está exercendo a função de caçador de recompensas, dr. King Schultz (Christoph Waltz, ótimo!). Schultz se aproveita do conhecimento do escravo para chegar aos irmãos Brittle – mortos ou vivos.

Mesmo depois de ter a alforria, Django continua ao lado do dentista a fim de caçar mais pessoas procuradas e, assim, ganhar dinheiro para libertar a sua esposa, Broomhilda (Kerry Washington), que atualmente é escrava de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), o proprietário de Candyland, uma enorme propriedade agrícola.

Com habilidade de oração e convencimento, Schultz resolve ajudar Django na sua busca. E questiona: “Vocês escravos acreditam em casamento?” Eles, porém, despertam a suspeita de Stephen (Samuel L. Jackson), o escravo doméstico de confiança de Candie.

Em uma época na qual o homem negro sobre o cavalo era olhado com desconfiança pelos senhores de cartola, o dentista alemão quebra as regras e pede ajuda ao próprio escravo, promete libertá-lo e o faz com gosto. Nos diálogos escritos por Tarantino, toques de bom humor encharcados de ironia, como só ele poderia fazer.

Por falar em ironia, enquanto estão em Candyland, o “senhorio” oferece ao dentista e ao “escravo livre” um bolo branco – e fica repetindo exaustivamente o nome da sobremesa.

Outra ironia é quanto ao apelido do escravo, D’Artagnan. O dentista questiona se o nome é em homenagem aos “Três Mosqueteiros”, obra de Alexandre Dumas, mas ele ignora. Em compensação, Shultz explica que Dumas era negro. Sem contar os trocadilhos, que podem ser identificados no idioma original.


DiCaprio, que foi ignorado pelas premiações de cinema, interpreta um personagem caricato, cheio de trejeitos. O ator, mais uma vez, prova que não é apenas um rostinho bonito que chegou a Hollywood em busca da fama.

Foi o próprio DiCaprio, aliás, quem ligou para Tarantino em busca de um papel, depois de ter acesso ao roteiro. A declaração foi dada durante entrevista do diretor à revista “Playboy” de janeiro.

Mas o ator Christoph Waltz, que ficou encarregado dos discursos e dos deboches na maior parte dos diálogos, tem mais destaque. Um show à parte de interpretação, que combina um bom texto à competência do ator.

Com ajuda de atores de primeira linha (e com participação especial em uma ponta do filme), Tarantino constrói a mise en scene perfeita, prende o espectador durante quase três horas de projeção, porque tem algo a dizer.

Com violência, tiros, morte e aquele sangue jorrado típico do diretor, “Django Livre” é um filme que deve estar na lista de todo cinéfilo que se preze.

No material de divulgação para a imprensa, Quentin Tarantino afirma que “sempre quis fazer um faroeste”. “Eu gosto de todos os faroestes, mas como os ‘spaghetti westerns’ sempre foram os meus favoritos, eu pensei que, no dia em que eu fizesse um, seria naquele universo do Sergio Corbucci.”

O nome “Django”, aliás, é familiar aos fãs de faroestes spa­ghetti: Franco Nero interpretou o personagem pela primeira vez em 1966, em “Django”.

Mais prêmios?
No dia 24 de fevereiro, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood vai entregar o Oscar. “Django Livre” concorre nas categorias Roteiro Original, Filme, Ator Coadjuvante, Edição de Som e Direção de Fotografia.

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