terça-feira, 13 de agosto de 2024

O DIABO NA RUA NO MEIO DO REDEMUNHO

Antonio Carlos Egypto

 

 



O DIABO NA RUA NO MEIO DO REDEMUNHO.  Brasil, 2023.  Direção e roteiro: Bia Lessa.  Elenco: Caio Blat, Luiza Lemmertz, Luísa Arraes, Leonardo Miggiorin, Clara Lessa, José Maria Rodrigues.  121 min.

 

“O Diabo na Rua no Meio do Redemunho”, adotando esse título, o filme já mostra a que veio: produzir uma imersão na linguagem e no universo de Guimarães Rosa, a partir do seu Grande Sertão Veredas.

 

Uma vez mais, essa obra-prima da literatura brasileira é encarada pelo cinema, por meio do trabalho de Bia Lessa.  Trabalho que se iniciou no teatro, com ela mesma dirigindo esse elenco que está no filme.  E Caio Blat encarna novamente o jagunço Riobaldo, como fez na peça e no filme de Guel Arraes “Grande Sertão”, já comentado aqui no cinema com recheio.

 

A versão cinematográfica de Bia Lessa vale-se do texto de Guimarães Rosa, do seu universo original, destacando toda a dimensão que a profundidade da obra contém, fazendo-nos mergulhar naquela linguagem tão própria e marcante do sertão mineiro que ele recria. 

 

Ela o faz com grande inventividade, como se estivesse no palco, mas num imenso e vazio palco cinza, que será preenchido pelos atores e atrizes em atuações capazes de criar tanto a guerra quanto os pássaros, tanto a vida e o amor quanto a morte.  E contando com adereços cênicos encenar uma batalha de dois grupos em confronto, um rio ou um campo de morte.

 


É teatro da mais alta estirpe, muito bem captado pela técnica cinematográfica.  Bem distante do teatro filmado que, via de regra, resulta em produtos tediosos.  Mas é assumidamente teatro.  Isso nos mostra quanto uma concepção cênica pode se reinventar para se expressar por diferentes meios e linguagens.

 

A narrativa de Riobaldo frente a Deus e ao diabo, confundindo-se no amor a Diadorim e no sentido mutante do bem e do mal, ganha uma força imensa nessa adaptação ao cinema.  Uma força que se multiplica com a música intensa e marcante de Egberto Gismonti.

 

O filme é todo intensidade, emoção e reflexão.  Sua linguagem nos provoca pelas palavras e pelas imagens o tempo todo, do começo ao fim.  Mas é um desafio que nos engrandece, nos modifica para melhor, se nos dispusermos a entrar nesse universo fascinante de Guimarães Rosa, que Bia Lessa explora de forma tão criativa e competente.

 

Após ter sido lançado em mostras e festivais nacionais e internacionais, entra no circuito cinematográfico a partir de São Paulo, agora em 15 de agosto de 2024, e vai em seguida receber lançamentos no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Luís, Salvador, Fortaleza e Porto Alegre, com exposições, debates e oficinas, com a participação da diretora e do elenco, em diferentes eventos pelo país.



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