Antonio Carlos Egypto
O
DIABO NA RUA NO MEIO DO REDEMUNHO.
Brasil, 2023. Direção e roteiro:
Bia Lessa. Elenco: Caio Blat, Luiza
Lemmertz, Luísa Arraes, Leonardo Miggiorin, Clara Lessa, José Maria
Rodrigues. 121 min.
“O
Diabo na Rua no Meio do Redemunho”, adotando esse título, o filme já mostra a
que veio: produzir uma imersão na linguagem e no universo de Guimarães Rosa, a
partir do seu Grande Sertão – Veredas.
Uma
vez mais, essa obra-prima da literatura brasileira é encarada pelo cinema, por
meio do trabalho de Bia Lessa. Trabalho
que se iniciou no teatro, com ela mesma dirigindo esse elenco que está no
filme. E Caio Blat encarna novamente o
jagunço Riobaldo, como fez na peça e no filme de Guel Arraes “Grande Sertão”,
já comentado aqui no cinema com recheio.
A
versão cinematográfica de Bia Lessa vale-se do texto de Guimarães Rosa, do seu
universo original, destacando toda a dimensão que a profundidade da obra
contém, fazendo-nos mergulhar naquela linguagem tão própria e marcante do
sertão mineiro que ele recria.
Ela o
faz com grande inventividade, como se estivesse no palco, mas num imenso e
vazio palco cinza, que será preenchido pelos atores e atrizes em atuações
capazes de criar tanto a guerra quanto os pássaros, tanto a vida e o amor
quanto a morte. E contando com adereços
cênicos encenar uma batalha de dois grupos em confronto, um rio ou um campo de
morte.
É
teatro da mais alta estirpe, muito bem captado pela técnica cinematográfica. Bem distante do teatro filmado que, via de
regra, resulta em produtos tediosos. Mas
é assumidamente teatro. Isso nos mostra
quanto uma concepção cênica pode se reinventar para se expressar por diferentes
meios e linguagens.
A
narrativa de Riobaldo frente a Deus e ao diabo, confundindo-se no amor a
Diadorim e no sentido mutante do bem e do mal, ganha uma força imensa nessa
adaptação ao cinema. Uma força que se
multiplica com a música intensa e marcante de Egberto Gismonti.
O
filme é todo intensidade, emoção e reflexão.
Sua linguagem nos provoca pelas palavras e pelas imagens o tempo todo,
do começo ao fim. Mas é um desafio que
nos engrandece, nos modifica para melhor, se nos dispusermos a entrar nesse
universo fascinante de Guimarães Rosa, que Bia Lessa explora de forma tão
criativa e competente.
Após
ter sido lançado em mostras e festivais nacionais e internacionais, entra no
circuito cinematográfico a partir de São Paulo, agora em 15 de agosto de 2024,
e vai em seguida receber lançamentos no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São
Luís, Salvador, Fortaleza e Porto Alegre, com exposições, debates e oficinas,
com a participação da diretora e do elenco, em diferentes eventos pelo país.
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