Antonio Carlos Egypto
PEQUENAS
CARTAS OBSCENAS (Wicked Little Letters). Reino Unido, 2023. Direção: Thea Sharrock. Elenco: Olivia Colman, Jessie Buckley, Anjana
Vasan, Timothy Spall. 101 min.
“Pequenas
Cartas Obscenas” é uma comédia bem característica do humor inglês. Focaliza uma pequena localidade litorânea nos
anos 1920. Uma sociedade tradicional, conservadora, dominada pela visão
religiosa do mundo. Ainda assim, há espaço para uma jovem mulher de hábitos
mais livres e um linguajar chulo, que inclui palavrões no seu dia-a-dia. Algo que incomoda a comunidade e que é mal
tolerado. Esse é o papel da jovem e
talentosa atriz Jessie Buckley, a personagem Rose. Já Olivia Colman, excelente e talentosa atriz
já experiente, faz o papel central da trama, o de Edith. Edith recebe cartas obscenas e injuriosas,
curtas e incômodas, que abalam a ela e a seus pais. Eles reclamam na polícia local e estão certos
de que tal coisa se deve a Rose. Mas a
policial local Gladys, vivida pela jovem e muito boa atriz Anjana Vasan, não
está convencida disso e resolve investigar, mesmo contrariando a orientação de
seus superiores, homens. O mistério será
desvendado. A história, inspirada em
fatos reais, é tão estranha que parece uma ficção exagerada. Reflete, no entanto, o que o ser humano que
não está em paz consigo mesmo é capaz de fazer.
Além do belo elenco, que tem também o conhecido e notável ator Timothy
Spall, o clima e os diálogos do filme valem a pena. É uma produção bem cuidada,
clássica, sem inovações formais. Acaba
sendo um bom entretenimento, que respeita a inteligência do público.
O MAL NÃO EXISTE (Aku Wa Sonzai Shinai) é o novo filme de Ryusuke Hamaguchi, do
Japão, que esteve na # 47 Mostra. Quem viu “Drive My Car”, um filme
espetacular, e também “Roda do Destino”, sabe que se trata de um talento
indiscutível de cineasta. Daí ser imperativo conhecer seu novo
filme. Só que “O Mal Não Existe” nos
prega uma grande peça. O filme é hermético, no sentido de
incompreensível. Não está nas imagens, nem nas falas, nem no
inexistente nexo causal entre as sequências, o significado da obra. Cabe ao
espectador desvendar a esfinge. Enquanto isso, assiste-se a uma filmagem
bonita, com belas locações, bons atores e tudo o mais. E vê-se muita maldade,
ou intenções escusas, num filme que se chama “O Mal Não Existe” . Como
assim? É só uma ironia ou ele seria uma representação, uma performance
teatral? Ou ele está lá e a gente faz de conta que não vê? Poderíamos até
fazer uma pesquisa sobre o que cada um achou que era, interpretou,
complementou, inventou. Quando algo não está claramente dado, a
tendência é preenchermos as faltas com a nossa própria visão do mundo e das
coisas. Ou simplesmente abandonar o desafio e rejeitar o
filme. O problema é que ele é muito bem feito e está muito longe de
ser uma bobagem qualquer. 106 minutos.
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