Antonio Carlos Egypto
O
ÚLTIMO PUB (The Old Oak). Reino
Unido, 2023. Direção: Ken Loach. Elenco: Dave Turner, Ebla Mari, Claire
Rodgerson, Col Tait. 113 min.
A obra
cinematográfica do diretor britânico Ken Loach é de uma consistência e
coerência absolutas. Seu talvez último
filme, realizado no ano passado aos 87 anos de idade, é “O Último Pub”. Baseado em roteiro de Paul Laverty,
colaborador de Loach pelos últimos trinta anos, uma vez mais joga luzes na vida
dos trabalhadores, dos excluídos, dos que são vítimas dos preconceitos. Procurando sempre entender as razões
econômicas e coletivas dos fatos.
Fazendo da forma mais simples possível um cinema complexo, porque a vida
é complexa. E ele não quer
trapacear. Muito menos a essa altura da
sua existência.
“O
Último Pub” vai a uma pequena cidade, que já foi muito próspera no passado,
mas, com o fechamento das minas e das indústrias locais, produziu um êxodo e quem
restou amarga uma decadência, falta de emprego e de perspectivas.
Para
cidades como essa, são levados os imigrantes, que fogem de condições de vida
insuportáveis em seus países. No
presente caso, imigrantes sírios, fugindo da guerra que destruiu suas casas,
seu trabalho, suas comidas, sua condição de vida. Esses imigrantes pouco ou nada têm a
oferecer, nem sequer dominam o idioma.
São, portanto, rejeitados, discriminados.
Ocorre
que a população local tende a vê-los como os responsáveis pela sua decadência,
esquecendo-se de todo o processo histórico-econômico que esvaziou essas
cidades. O estrangeiro é o culpado. É simples.
Mas falso, muito falso.
É da
vida dessas pessoas, as locais e os imigrantes, em convívio e conflito, que se
alimenta a história desenvolvida pelo filme.
O dono
do último pub, que resiste na cidade, no entanto, é capaz de se aproximar e
quer ajudar esses sofridos sírios. E se
lembrando de um aforismo materno de que o fundamental é comer junto para viver
bem, organiza refeições coletivas, reunindo os recursos dele e de todos, para
que todos possam comer e existir de uma forma melhor. Só que essa solidariedade à base da comida
incomoda outros, que não aceitam que o pub tenha esse papel e quer os
imigrantes longe dali. Passando fome,
não importa.
Ao
mostrar todo esse processo e relacionamento, Ken Loach reafirma seu humanismo e
sua crença na união dos trabalhadores e de todos que se sentem excluídos. Mas, ao mesmo tempo, parece um pouco
desanimado quanto ao êxito dessas lutas na atualidade.
O
momento mundial não é mesmo muito animador, com tanta opressão e tantas
guerras. Com o declínio do Estado de
Bem-Estar Social na Europa, isso agudizou todo o problema dos imigrantes, hoje
uma grande chaga não só no Reino Unido, mas na Europa toda e por aqui também,
em escala menor.
Mais
uma vez, o cineasta nos dá um belo filme político, dentro de uma narrativa
dramática muito bem estruturada e trabalhando também com atores não
profissionais, sírios que vivem ou viveram o drama que estão
representando. Algo que só solidifica e
adensa a sinceridade e a verdade dos fatos.
Cinema da melhor qualidade. Se for mesmo o último filme dele, será uma
pena. O trabalho de Loach no Reino Unido
tem uma grandeza que deixará uma lacuna, fará muita falta.
Quem
não conhece a obra cinematográfica de Ken Loach e quiser ler minhas críticas a
muitos dos filmes que ele fez, aqui no cinema
com recheio, basta escrever o nome dele no campo de pesquisa, no formato web do blog, e terá muita coisa para
ler. Entre eles, os ótimos e mais
recentes “Você Não Estava Aqui”, de 2019, e “Eu, Daniel Blake”, de 2016. É uma obra maravilhosa, de um grande mestre
do cinema.
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