O
SEQUESTRO DO PAPA (Rapito). Itália, 2023. Direção: Marco Bellocchio.
Elenco:
Paolo Pierobon, Fausto Russo Alesi, Barbara Ronchi, Enea Sala, Leonardo
Maltese. 135 min.
Vamos
começar pelo título em português: “O Sequestro do Papa”. Ele sugere o quê? Que o Papa, um Papa histórico, tenha sido
sequestrado. Mas, e se o fato histórico, que deu origem ao filme, é sobre um
Papa que atuou como sequestrador ou mandante de um sequestro?
O
título original “Rapito” significa raptado ou sequestrado. E a que se refere? Ao menino judeu Edgardo Mortara, que vivia
com sua família em Bolonha e que, em 1858, aos seis anos de idade, foi retirado
de seus pais e passou a viver no Vaticano, sob a responsabilidade da Igreja
Católica, em especial, do Papa Pio IX (1792-1878), que o tratava como se fosse
seu pai.
O
motivo para o sequestro da criança seria o fato de que uma empregada doméstica da
família Mortara realizou o batismo do menino em uma situação de doença e risco
real de morte, quando bebê, visando livrá-lo do limbo, sendo ela católica. À revelia da família, naturalmente. A lei
proibia aos não-cristãos educar uma criança cristã, definida assim pela
condição de batizado. Ainda que quem a pretendesse educar fossem seus pais
biológicos.
Uma
situação vista hoje como esdrúxula e de um autoritarismo absurdo. Até então o poder do Papa extrapolava o modelo
religioso, realizando-se também como chefe de Estado, uma espécie de Rei com
poderes absolutos.
Na
época vigorava um reinado Papal que se opunha à unificação da Itália e a Roma
como capital do novo país, o que ocorreu em 1870. O Papa vivia em conflito com os maçons, que
inclusive tentaram jogar o caixão com os restos mortais do pontífice no Rio
Tigre.
A
situação que gerou o Vaticano como Estado independente dentro da Itália só
seria resolvida pelo modelo atual por Benito Mussolini, em meados do século XX.
Essa
história real resgatada pelo filme do grande diretor Marco Bellocchio é forte,
é um libelo contra o autoritarismo, numa sucessão de sequências de impacto e
beleza que nos levam a refletir sobre um bom número de questões.
Ao
tomar como referência a vida do menino sequestrado e de tudo o que se passa com
ele ao longo do tempo, não deixa dúvidas sobre o caráter opressor, não importa
de quem parta. Também nos revela o papel
da manipulação de corações e mentes, ainda que envelopados pela aparente
bondade e doçura.
Bellocchio
se vale de um elenco de grande talento, que dá vida a personagens
multifacetados, que não estão enquadrados na galeria dos bons ou dos maus. São figuras mais complexas, reais. A partir do próprio garoto estreante, Enea
Sala, que faz muito bem o papel de Edgardo criança, o jovem Leonardo Maltese,
como Edgardo adulto, o pai Momolo, interpretado por Fausto Russo Alesi, a mãe,
Marianna, por Barbara Ronchi, e o Papa Pio IX, vivido por Paolo Pierobon. A
reconstituição de época é muito boa e a beleza da cidade de Bolonha com a Basílica
de São Petrônio e suas construções medievais se evidencia no filme.
Parece muito especial. Quero ver esse filme. Obrigada
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