Antonio Carlos Egypto
Há uma
profusão de lançamentos nos cinemas.
Algo que acaba soterrando alguns filmes que mereceriam atenção. Já comentei aqui na semana passada sobre
“Monster”, que é um excelente trabalho do cineasta japonês Kore-Eda. Agora, gostaria de destacar “Folhas de
Outono” e comentar mais dois filmes.
FOLHAS
DE OUTONO (Kuolleet Lehdet),
Finlândia, 2023. Direção: Aki
Kaurismaki. Elenco: Alma Pöysti, Jussi
Vatanen. 81 min.
A
canção Fallen Leaves dá nome e serve de inspiração ao filme “Folhas de
Outono”. A direção é do experiente e talentoso Aki Kaurismaki, que já teve
filmes exibidos na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em pelo menos 15
edições diferentes. Ele e seu irmão Mika
puseram a Finlândia no mapa do cinema. Neste filme, como em tantos outros anteriores,
os deserdados da sorte ocupam o primeiro plano.
São solitários, desajeitados, estranhos, invariavelmente há abuso de
álcool, falta de dinheiro e de emprego decente.
No entanto, o clima não é dramático, é tragicômico. A gente ri, tem pena, dá raiva da
imbecilidade de alguém ou algo nos surpreende.
As múltiplas referências ao cinema e a filmes significativos para sua
história fazem a alegria e a distração dos cinéfilos. O humor e a leveza no trato das situações,
muitas vezes dramáticas, dão o tom de “Folhas de Outono”. O clima de profunda estranheza e atitudes
inusitadas é uma marca característica do cineasta. A gente sai do cinema em alto astral.
PEDÁGIO,
Brasil, 2023. Direção: Carolina
Markowicz. Elenco: Maeve Jinkings, Kauan
Alvarenga, Thomas Aquino, Aline Marta Maia, Isac Graça. 101 min.
No ano
passado, vimos “Carvão”, primeiro longa de Carolina Markowicz, que era um
trabalho bastante instigante, bem construído e bem realizado. Agora, ela nos apresenta “Pedágio”, que
combina vários elementos, como a canalhice da tal cura gay, realizada por
pastores, no caso, um estrangeiro, a um custo alto, e metodologia risível e
inócua. Até porque se propõe a fazer
algo impossível. O filme mostra isso
bem, mas associa à falta de dinheiro e às condições miseráveis da trabalhadora
do pedágio, Suellen (Maeve Jinkings), o que a leva a se envolver com atos
criminosos. Assim se caminha para o
gênero policial e de suspense. Com isso,
o foco do filme se dispersa e os elementos que o constituem perdem um pouco da
força. Há problemas também na edição,
linear, que mantém a funcionária, que estaria demitida, nas cenas seguintes
agindo no trabalho. Nem por isso o filme
deixa de ter interesse, até porque tem um belo elenco e cenas bem realizadas. Só não tem a mesma força do filme anterior da
diretora.
SOFTIE,
França, 2021. Direção: Samuel
Theis. Elenco: Aliocha Reinent, Antoine
Reinartz, Mélissa Oleka, Izia Higelin.
93 min.
Johnny
(Aliocha Reinent), um menino de 10 anos, de aparência andrógina, está em busca
de entender o mundo dos adultos, especialmente o de sua mãe, e aquilo que já
começa a se passar com ele. Ao encontrar
num professor aceitação e estímulo ao autodesenvolvimento, ele projeta nele uma
paixão, apesar dos cuidados que o mestre toma nesses contatos. Johnny estará se descobrindo a partir
daí. A narrativa segue os parâmetros dos
relacionamentos aluno-professor, em que a fantasia das crianças ou
pré-adolescentes se dirige aos educadores como paixão. No caso, aqui, no terreno homoafetivo. Sem muita novidade. Vale pelo desempenho do
ator mirim, escolhido a dedo, que se sai muito bem no papel e, com sua imagem e
desempenho, contribui para dar veracidade à trama. E tem um bom elenco ao lado dele. O diretor Samuel Theis explica que a história
se baseia na sua infância, tem muitos elementos autobiográficos, ao lado de
alguma ficção.
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