terça-feira, 5 de dezembro de 2023

PUAN

Antonio Carlos Egypto

 

 


PUAN (Puan), Argentina, 2023.  Direção: Maria Alché e Benjamin Naishtat.  Elenco: Marcelo Subiotto, Leonardo Sbaraglia, Julieta Zylberberg, Alejandra Flechner.  109 min.

 

“Puan” nos coloca no ambiente acadêmico, da Universidade de Buenos Aires, em que a morte inesperada do chefe do Departamento de Filosofia engendra uma disputa de poder entre dois docentes. 

 

O primeiro, e personagem central do filme, é Marcelo (Marcelo Subiotto), que trabalhou muitos anos ao lado do antigo e respeitado chefe Caselli e espera ser seu sucessor no cargo.

 

O segundo é um professor que volta da Europa, da Alemanha, e para surpresa de Marcelo disputa o cargo.  É Rafael (Leonardo Sbaraglia), que esbanja extroversão e charme, enquanto Marcelo é preparado, mas tímido.

 

Nessa disputa de poder, entram Rousseau, Hobbes, Platão, Spinoza e outros mais.  Mas entra também um fator totalmente alheio à academia (ou assim se esperava que fosse), Rafael conquistou uma bela e famosa atriz de cinema, Vera Motta (Lali Espósito) e isso lhe dá um status especial.  É o moderno, o que vem para mudar.

 

Enquanto isso se desenvolve, o país entra em colapso com seus problemas econômicos (inflação, fuga de dólares, etc.) e a Universidade sente as consequências.  Os estudantes lutam com as suas possibilidades e isso é evidenciado pelo que se vê no campus e na própria sala-de-aula.

 


A disputa acadêmica terá de ser confrontada com a realidade que invade o mundo universitário.  Mas o filme não se furta de mostrar ideias e frases dos filósofos, que orientam o método pedagógico das aulas dos professores, ilustrando a beleza do conhecimento e da razão.  Já a práxis parece um pouco distante.

 

É uma narrativa interessante, inteligente, que se vale de dois grandes atores nos desempenhos principais.  Marcelo Subiotto, perfeito na caracterização e tipologia de seu papel.  O ótimo Leonardo Sbaraglia, no entanto, me parece inadequado enquanto figura, ele não sugere o charme e o encanto que o personagem precisa ter.  Sua interpretação é muito boa, mas sua aparência não casa bem com o personagem.  É preciso desviar disso para embarcar na história.

 

O filme é dirigido por Maria Alché e por Benjamin Naishtat, que é o realizador de “Vermelho Sol”, de 2018, um belo trabalho.  “Puan” foi exibido na 47ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e entra agora em cartaz no circuito comercial.  Mais um bom produto do cinema argentino, tão bem recebido pelos brasileiros e pelo mundo, e que corre sérios riscos de perder força diante do novo governo eleito pelos hermanos, que não pretende dar nenhum apoio à cultura.  Deve deixá-la à sua própria sorte ou se entendendo com os interesses da chamada iniciativa privada.




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