Antonio Carlos Egypto
PUAN (Puan), Argentina, 2023. Direção: Maria Alché e Benjamin
Naishtat. Elenco: Marcelo Subiotto,
Leonardo Sbaraglia, Julieta Zylberberg, Alejandra Flechner. 109 min.
“Puan”
nos coloca no ambiente acadêmico, da Universidade de Buenos Aires, em que a
morte inesperada do chefe do Departamento de Filosofia engendra uma disputa de
poder entre dois docentes.
O
primeiro, e personagem central do filme, é Marcelo (Marcelo Subiotto), que
trabalhou muitos anos ao lado do antigo e respeitado chefe Caselli e espera ser
seu sucessor no cargo.
O
segundo é um professor que volta da Europa, da Alemanha, e para surpresa de
Marcelo disputa o cargo. É Rafael
(Leonardo Sbaraglia), que esbanja extroversão e charme, enquanto Marcelo é
preparado, mas tímido.
Nessa
disputa de poder, entram Rousseau, Hobbes, Platão, Spinoza e outros mais. Mas entra também um fator totalmente alheio à
academia (ou assim se esperava que fosse), Rafael conquistou uma bela e famosa
atriz de cinema, Vera Motta (Lali Espósito) e isso lhe dá um status especial. É o moderno, o que vem para mudar.
Enquanto
isso se desenvolve, o país entra em colapso com seus problemas econômicos
(inflação, fuga de dólares, etc.) e a Universidade sente as consequências. Os estudantes lutam com as suas
possibilidades e isso é evidenciado pelo que se vê no campus e na própria sala-de-aula.
A
disputa acadêmica terá de ser confrontada com a realidade que invade o mundo
universitário. Mas o filme não se furta
de mostrar ideias e frases dos filósofos, que orientam o método pedagógico das
aulas dos professores, ilustrando a beleza do conhecimento e da razão. Já a práxis
parece um pouco distante.
É uma
narrativa interessante, inteligente, que se vale de dois grandes atores nos
desempenhos principais. Marcelo
Subiotto, perfeito na caracterização e tipologia de seu papel. O ótimo Leonardo Sbaraglia, no entanto, me
parece inadequado enquanto figura, ele não sugere o charme e o encanto que o
personagem precisa ter. Sua
interpretação é muito boa, mas sua aparência não casa bem com o personagem. É preciso desviar disso para embarcar na
história.
O
filme é dirigido por Maria Alché e por Benjamin Naishtat, que é o realizador de
“Vermelho Sol”, de 2018, um belo trabalho.
“Puan” foi exibido na 47ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e
entra agora em cartaz no circuito comercial.
Mais um bom produto do cinema argentino, tão bem recebido pelos
brasileiros e pelo mundo, e que corre sérios riscos de perder força diante do
novo governo eleito pelos hermanos,
que não pretende dar nenhum apoio à cultura.
Deve deixá-la à sua própria sorte ou se entendendo com os interesses da
chamada iniciativa privada.
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