Antonio Carlos Egypto
BLUE
JEAN (Blue Jean). Reino Unido, 2022. Direção e roteiro: Georgia Oakley. Elenco: Rosy Mc Ewen, Kerrie Hayes, Lucy
Halliday, Lydia Page. 100 min.
“Blue
Jean”, filme dirigido por Georgia Oakley, remete à questão da homossexualidade
no Reino Unido, durante o período da primeira ministra conservadora Margaret
Thatcher, que promovia uma ampla campanha contra a população LGBT+, a pretexto
de impedir o que chamava de promoção da homossexualidade. O filme faz referência a uma tal “cláusula
28”, que estigmatizava e difamava as lésbicas, por exemplo, considerando-as
como subversivas e problemáticas.
A
trama de “Blue Jean” focaliza a professora de educação física Jean (Rose Mc Ewen)
tentando viver sua vida e sua profissão, mas se sentindo pressionada por todos
os lados. Tenta proteger seu emprego, do
que depende para viver, as relações com os colegas de trabalho, com os alunos e
na vida familiar, ao mesmo tempo em que vive uma experiência amorosa com Viv (Kerrie
Hayes), uma mulher mais desinibida e ativa politicamente, o que oferece um
contraponto eloquente à sua postura reprimida, cuidadosa.
As
coisas se complicam quando uma aluna dela passa a frequentar uma casa noturna
lésbica, que, a rigor, não teria idade para frequentar, ao mesmo tempo em que é
hostilizada na escola. E isso exige uma
tomada de posição por parte de Jean, que lhe será muito custosa.
Por aí
o filme caminha, mostrando as dificuldades que se apresentam para quem, além de
enfrentar os preconceitos habituais, tem de encarar a hostilidade pública que
um governo constituído lhe faz, em pleno século XX. A ação se passa em 1988.
A
ótima atriz Rosy Mc Ewen compõe uma personagem sempre tensa, tentando parecer
calma ou controlada, por meio do rosto contraído, do olhar medroso, dos gestos
contidos, dos sorrisos sem espontaneidade. Tudo isso mostrado com bastante
sutileza. Com isso consegue nos passar
todo o sofrimento interno da personagem.
Vencedor
do prêmio do púbico no Festival de Veneza, “Blue Jean” de fato se comunica bem
com o público, trata do tema com clareza e sensibilidade, centrado no caráter
humano que envolve o amor e a luta pelo direito ao reconhecimento e à aceitação
de se poder ser o que se é. Do mesmo
modo, denuncia o absurdo dos controles do Estado sobre a vida das pessoas, seja
amorosa, sexual, familiar, religiosa ou qualquer outra. É assim um filme que cultiva a diversidade e
a universalidade dos direitos humanos.
É
incrível que a Inglaterra, o Reino Unido, que criminalizou a homossexualidade
por tanto tempo, vide o caso Oscar Wilde, tenha retomado uma posição de
hostilidade oficial, em plenos anos 1980, por conta da ascensão de um governo
de direita ultraconservador. E pior, que
essas tendências políticas continuem tendo força e apoio, não só lá como em
muitas outras partes do mundo.
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