NAS
ONDAS DA FÉ. Brasil, 2021. Direção: Felipe Joffily. Elenco: Marcelo Adnet, Letícia Lima, Thelmo
Fernandes, Tonico Pereira. 110 min.
Marcelo
Adnet é um dos maiores talentos do humor nacional na atualidade. Ator cômico de primeira linha, fantástico
imitador, faz um humor inteligente, crítico, ousado, irônico, político. Quando ele se coloca por inteiro num projeto cinematográfico, como
a comédia “Nas Ondas da Fé”, no mínimo, merece atenção. Ele é o ator principal, criou o argumento e
participou do roteiro do filme, além de ser um dos produtores. Ou seja, é um filme em que ele jogou suas
fichas.
A
história mexe com o que podemos chamar de mercado da fé, em que se sobressaem
pastores e apóstolos de igrejas evangélicas diversas. Embora bastante reconhecível nas posturas,
atitudes e consequências do que é mostrado, a trama evita generalizar. Ou seja, supostamente, retrata os que se aproveitam
da boa-fé das pessoas para lucrar – e muito – com isso. Os que abusam da simplicidade de crentes um
tanto ingênuos, que buscam alívio e apoio para os seus sofrimentos.
O
personagem de Marcelo Adnet é Hickson, carioca do subúrbio, técnico em informática
e locutor de telemensagens, que tem como grande pretensão na vida tornar-se
radialista. Talento para isso ele tem,
tanto que, a partir de um emprego conquistado numa rádio evangélica, com o
auxílio da mulher Jéssika (Letícia Lima), ele acaba virando pastor. Com o seu sucesso arrecadando dinheiro e com
sua notoriedade, gera inveja naqueles a quem ultrapassou, sem dificuldade.
E por
aí a narrativa vai, desnudando meandros da luta pelo poder entre os religiosos,
seus valores (ou a falta ou tibieza deles), em que o dinheiro, mas também o
sucesso e o prestígio, contam muito.
Muito mais do que qualquer questão espiritual. Até porque os estudos a que o pastor Hickson
se dedica não vão exatamente por aí.
Adnet
explora seus recursos com o uso de sua pirotecnia vocal, suas caras e bocas e o
seu jeito natural e engraçado de ser.
Aproveita bem seu papel e se destaca em meio a uma profusão de outros
talentos do humor, como a ótima Letícia Lima, coprotagonista do filme, Otávio
Müller, Tonico Pereira, Stepan Nercessian, Gregório Duvivier e outros, em
papéis pequenos, mas divertidos.
Não
sei dizer se esse humor explorando o veio dos evangélicos, que abusam do seu
povo e lucram com isso, vai incomodar os que professam a religiosidade
pentecostal, como um todo. Pelo menos,
não parece ter sido essa a intenção de “Nas Ondas da Fé”, dirigido por Felipe
Joffily. Assim como há salafrários nessa
religião, há em todas as outras, e entre os ateus e agnósticos, também. Ou seja, diz respeito aos seres humanos de
qualquer profissão ou fé. E é bom que
esses assuntos sejam explicitados e discutidos via humor, pelo riso, uma forma
contundente de questioná-los.
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