Antonio Carlos Egypto
O SILÊNCIO DA CHUVA. Brasil, 2019.
Direção: Daniel Filho. Roteiro:
Lusa Silvestre. Com Lázaro Ramos,
Thalita Carauta, Claudia Abreu, Mayana Neiva, Otávio Müller, Pedro Nercessian,
Bruno Gissoni. 96 min.
Explorar os diversos aspectos do
cinema de gênero (drama, comédia, suspense, humor, infanto-juvenil, etc.)
contribui para que o cinema brasileiro amplie suas possibilidades e seu
público. Fale com diversas plateias,
dialogue com interesses e motivações distintos e alcance resultados econômicos
expressivos, na medida em que atinge padrão de qualidade dentro do cinema
comercial, aquele dirigido ao grande público.
Isso já vem acontecendo, mostrando a
importância do vínculo cinema e TV na produção e divulgação de produtos
audiovisuais. O sucesso das comédias com atores e atrizes globais é exemplo
evidente disso.
Menos explorado, talvez, seja o gênero
policial, que chega agora aos cinemas com “O Silêncio da Chuva”, baseado no
romance de Luiz Alfredo Garcia-Roza (1936-2020) e que tem na direção o talento
do veterano Daniel Filho, aos 83 anos.
Daniel já fez de tudo no cinema e na TV. Sabe tudo e renova-se
sempre. Neste trabalho, explorou o mistério
do caso relatado no romance, acentuando os tons escurecidos, amarronzados da água
que se relaciona aos becos e põe o espaço urbano empobrecido em evidência e em
relação com a exuberância das mansões e do dinheiro superlativo que enche
valises e superdimensiona seguros de vida.
Ou seja, expõe a desigualdade escandalosa da nossa realidade. Está contando, no entanto, sua história para
o nosso entretenimento. Uma trama em que
detetives, o intelectualizado Espinosa, vivido por Lázaro Ramos, e sua parceira
Daia (Thalita Carauta), em desempenho premiado, vão ter que remexer na vida e
nas relações amorosas de figurões, à medida que mortes acontecem e têm de ser
investigadas.
Os personagens masculinos, incluindo
até Espinosa, não parecem encontrados, em paz com a vida, com seu trabalho, com
seus desejos. Ao contrário, não chegam
lá, mesmo com dinheiro, prestígio ou armas na mão. Ricos ou pobres. Já as mulheres se destacam pelo comportamento
positivo, muito mais firmes, diretas, corajosas, donas de si. Inclusive dentro da polícia, comparadas com
eles.
Aurélio, o personagem de Otávio
Müller, por exemplo, é de uma carência absurda, enquanto Bia (Claudia Abreu) e
Rose (Mayana Neiva) podem ser cínicas, mas se dão muito bem, acompanham e
reagem com competência à avalanche que as assola.
“O Silêncio da Chuva” é um thriller agitado, em que o espectador pouco
empenhado ou atento pode se perder.
Algumas falas, irônicas, bem humoradas ou simplesmente banais, escapam
mesmo. Até porque a dicção de alguns
atores e atrizes, em falas rápidas e gritadas, por vezes, deixa a desejar.
A narrativa é atraente e
envolvente. A direção é segura, tem
belos enquadramentos, boas sequências de ação e tomadas esteticamente bem
trabalhadas. .A fotografia é um ponto alto do filme É bom cinema.
O elenco é muito bom. Os negros,
além de serem protagonistas, não como infratores, mas como detetives, ainda
garantem uma roda de samba sensacional, no início e no fim do filme. Por falar em fim, há cenas posteriores aos créditos,
importantes para a compreensão da trama.
Não tenha pressa em sair.
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