sexta-feira, 1 de outubro de 2021

O SILÊNCIO DA CHUVA

Antonio Carlos Egypto

 

 




O SILÊNCIO DA CHUVA.  Brasil, 2019.  Direção: Daniel Filho.  Roteiro: Lusa Silvestre.  Com Lázaro Ramos, Thalita Carauta, Claudia Abreu, Mayana Neiva, Otávio Müller, Pedro Nercessian, Bruno Gissoni.  96 min.

 

 

Explorar os diversos aspectos do cinema de gênero (drama, comédia, suspense, humor, infanto-juvenil, etc.) contribui para que o cinema brasileiro amplie suas possibilidades e seu público.  Fale com diversas plateias, dialogue com interesses e motivações distintos e alcance resultados econômicos expressivos, na medida em que atinge padrão de qualidade dentro do cinema comercial, aquele dirigido ao grande público.

 

Isso já vem acontecendo, mostrando a importância do vínculo cinema e TV na produção e divulgação de produtos audiovisuais. O sucesso das comédias com atores e atrizes globais é exemplo evidente disso.

 

Menos explorado, talvez, seja o gênero policial, que chega agora aos cinemas com “O Silêncio da Chuva”, baseado no romance de Luiz Alfredo Garcia-Roza (1936-2020) e que tem na direção o talento do veterano Daniel Filho, aos 83 anos.  Daniel já fez de tudo no cinema e na TV. Sabe tudo e renova-se sempre.  Neste trabalho, explorou o mistério do caso relatado no romance, acentuando os tons escurecidos, amarronzados da água que se relaciona aos becos e põe o espaço urbano empobrecido em evidência e em relação com a exuberância das mansões e do dinheiro superlativo que enche valises e superdimensiona seguros de vida.  Ou seja, expõe a desigualdade escandalosa da nossa realidade.  Está contando, no entanto, sua história para o nosso entretenimento.  Uma trama em que detetives, o intelectualizado Espinosa, vivido por Lázaro Ramos, e sua parceira Daia (Thalita Carauta), em desempenho premiado, vão ter que remexer na vida e nas relações amorosas de figurões, à medida que mortes acontecem e têm de ser investigadas.

 



Os personagens masculinos, incluindo até Espinosa, não parecem encontrados, em paz com a vida, com seu trabalho, com seus desejos.  Ao contrário, não chegam lá, mesmo com dinheiro, prestígio ou armas na mão.  Ricos ou pobres.  Já as mulheres se destacam pelo comportamento positivo, muito mais firmes, diretas, corajosas, donas de si.  Inclusive dentro da polícia, comparadas com eles.

 

Aurélio, o personagem de Otávio Müller, por exemplo, é de uma carência absurda, enquanto Bia (Claudia Abreu) e Rose (Mayana Neiva) podem ser cínicas, mas se dão muito bem, acompanham e reagem com competência à avalanche que as assola.

 

“O Silêncio da Chuva” é um thriller agitado, em que o espectador pouco empenhado ou atento pode se perder.  Algumas falas, irônicas, bem humoradas ou simplesmente banais, escapam mesmo.  Até porque a dicção de alguns atores e atrizes, em falas rápidas e gritadas, por vezes, deixa a desejar.

 

A narrativa é atraente e envolvente.  A direção é segura, tem belos enquadramentos, boas sequências de ação e tomadas esteticamente bem trabalhadas. .A fotografia é um ponto alto do filme  É bom cinema.  O elenco é muito bom.   Os negros, além de serem protagonistas, não como infratores, mas como detetives, ainda garantem uma roda de samba sensacional, no início e no fim do filme.  Por falar em fim, há cenas posteriores aos créditos, importantes para a compreensão da trama.  Não tenha pressa em sair.




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