sábado, 30 de outubro de 2021

2 DESTAQUES DA # 45 MOSTRA

Antonio Carlos Egypto

 

 


BERGMAN ISLAND, França.  Direção e roteiro: Mia Hansen-Love.  Elenco: Vicky Krieps, Tim Roth, Mia Wasikowska, Anders Danielsen Lie.  105 min.

 

Assistir a um filme que fala de Ingmar Bergman (1918-2007), que tem como locação a ilha de Farö, onde ele viveu e filmou, visitar paisagens, lugares, casas, que estão registrados na sua obra cinematográfica, é tudo o que um cinéfilo, ou crítico, gostaria de ver.  Pois a diretora francesa Mia Hansen-Love nos oferece isso no filme “Bergman Island”.  É um imenso prazer percorrer com seus personagens essa bela ilha, ver a casa, a biblioteca, o cinema, o moinho, a vegetação, o mar, as pedras e o silêncio que encantavam o mestre sueco em sua reclusão, protegida pela própria população da localidade.  Já bastaria isso para nos interessar por esse filme.  Mas, nesse caso, teríamos um documentário, à semelhança do filme homônimo “A Ilha de Bergman”, produção sueca dirigida por Marie Nyreröd, em 2006.  A ilha estava lá, mas o foco foi o próprio Bergman, ainda vivo, revendo sua vida e sua história no cinema, no teatro, na TV. “Bergman Island”, de Mia Hansen-Love, é uma ficção.  Um casal de cineastas e roteiristas vai passar um período na ilha de Farö, em busca de inspiração, além de conhecer o lugar icônico que Bergman escolheu para viver, onde escreveu e filmou.  Ambos escrevem, passeiam pela ilha, juntos e separados.  Ele faz o Bergman Safári, esquema turístico que leva aos lugares que marcam a obra do diretor.  Ela faz um percurso mais livre e solto, em busca desses lugares.  E escrevem, ele, com mais facilidade e disciplina, ela, com mais tensão e dúvida.  No entanto, é ela que começa a contar a sua história, o seu roteiro.  O que vemos, então, é o seu roteiro já transformado em filme.  Assistimos ao filme dentro do filme, embora inconcluso, ou assim definido como tal, por ela.  A uma certa altura, o que está acontecendo com o casal se confunde com o roteiro e até com os atores que o representam, numa fusão muito interessante de desejo, inspiração, realidade, fantasia.

 

 


AHED’S KNEE, Israel.  Direção e roteiro: Nadav Lapid.  Elenco: Avshalom Pollak, Nur Fibak.  109 min.

 

Após “Synonyms”, de dois atrás, também exibido na Mostra, Nadav Lapid nos traz um novo filme que provoca e polemiza. Um pouco pela forma, que exagera na câmera agitada, na música pop e em certos maneirismos.  Isso para dar um ar moderno ao filme, que ocupa sua parte inicial, mas é no questionamento ao seu país, o Estado de Israel, que se encontram as grandes polêmicas.  O personagem Y, cineasta, que costuma expor em conferências temas referentes aos filmes que realiza, vai a uma pequena cidade de 5 mil habitantes, ao lado do deserto.  Lá se encontra com Yahalom, mulher, representante do Ministério da Cultura, quando fica sabendo que só poderá falar de assuntos já determinados por uma lista, que ele deve respeitar.  Ou seja, o que não está lá está proibido.  Há uma brecha, um assunto pode ser sugerido desde que se dê o enfoque e o motivo para poder ser aceito.  Há, evidentemente, uma censura que compromete a liberdade de expressão.  Isso estará no centro da relação que se estabelece entre os dois personagens.  Porém, outras questões serão tocadas, como o totalitarismo e a belicosidade do Estado, o caráter conservador do pensamento, a não-aceitação da crítica.  O personagem aborda, ainda, a invasão do Líbano e a política de incentivo ao suicídio, por cianureto, em caso de perda militar irreversível.  E uma questão econômica da localidade, a perda de valor dos pimentões que sustentavam a cidade, também motivo de desespero e suicídio de muitas pessoas lá.  Será o personagem Y um revolucionário, um pessimista, a ser rechaçado ou alguém que toca nas feridas que ninguém ousa mexer?

 @mostrasp 



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