Antonio Carlos Egypto
Filmes de todos os cantos do mundo são
exibidos na Mostra 45. Vamos a alguns
deles.
ESTRADA
PARA O ÉDEN, do
Quirguistão, dirigido por Bakyt Mukul e Dastan Zhapar Uulu. 121 min., é um drama sobre um personagem
envelhecido. Kubat Aliev, escritor de
sucesso popular aposentado, utiliza todos os seus recursos para tentar salvar
um ex-aluno doente, que ele entende que pode dar continuidade a suas ideias
literárias. E encontra problemas entre
seus familiares mais próximos, envolvendo dinheiro. O filme, com uma bela fotografia em preto e
branco, cria uma atmosfera calma, combinando com o tema tratado, ao mesmo tempo
em que a situação é tensa e flui muito bem.
Há alguns senões de roteiro que perdem importância diante do conjunto da
obra, um bom trabalho cinematográfico.
18
KHz, do Cazaquistão,
dirigido por Farkhat Sharipov, trata de adolescentes transgressores que se
envolvem com drogas pesadas, como a heroína.
Os dois rapazes, personagens principais, são os mais jovens do grupo,
estudantes do ensino médio. A filmagem
explora as “viagens” das drogas psicoativas, misturando sonho e realidade, ao
ponto de que o próprio personagem que vive a situação não consegue saber o que
de fato está acontecendo e acredita estar enlouquecendo. Tudo em nome da busca da liberdade numa
frequência, segundo o filme, que os adultos não sintonizam. Boa realização.
MURINA, da Croácia, trata também de
adolescência, ao colocar toda a narrativa focada na jovem Julija. Ela domina as profundezas do mar em mergulhos
com o pai, mas se sente oprimida por ele e quer mergulhar num outro universo, o
da liberdade. A visita de um velho amigo
do pai, interessado num negócio, abre a perspectiva de um caminho de saída para
ela, já que a mãe nunca conseguiria ajudá-la nisso, pois também está presa nos
cordões manejados pelo marido. Machismo,
emancipação feminina e rebeldia adolescente fazem parte do cardápio que, às
vezes, inclui uma murina à mesa. Belas
filmagens aquáticas valorizam a realização de Antonieta Alamat
Kusijanovic. 92 min.
AURORA, da Costa Rica, de Paz Fábrega, 90
min, mergulha na questão da gravidez na adolescência, na relação da jovem Yuli,
de 17 anos, com Luísa, uma arquiteta de 40 anos, que ministra oficinas
criativas para jovens. Como é comum
acontecer, Yuli tenta esconder a gravidez, até de sua mãe, e procura amparo em
Luísa, que se perde ao se envolver com a adolescente, misturando os papéis de
educadora, amiga e confidente, com a figura materna. Realização sensível e delicada, que alerta
para o fato de que o envolvimento pessoal no sentido de ajudar pode complicar
as coisas, em que pesem as melhores intenções.
YUNI, da Indonésia, de Kamila Andini, 95
min., é mais um filme voltado para a adolescência feminina, na Mostra 45. A personagem que dá nome ao filme, Yuni, é
uma garota exuberante, obcecada por roxo e cheia de sonhos. Quando recebe uma primeira proposta de casamento,
um tanto precoce, isto se choca com as primeiras experiências de namoro e com o
seu desejo de estudar, obtendo uma bolsa, já que é boa aluna – mas para isso
tem que estar solteira. No entanto,
novas propostas de casamento surgirão, todas interessadas em tê-la enquanto é
virgem. E há uma crença de que recusar a
partir da segunda proposta dá azar, traz muitos problemas. Nesse contexto, decidir o que fazer será
muito difícil. Um filme muito
interessante, com uma protagonista feminina muito viva e forte.
AO
ORIENTE, do Equador,
de José Maria Avilés, revisita uma história dos tempos coloniais, trazendo-a
para os dias atuais. Em 1532, quando Atahualpa foi capturado por
Francisco Pizarro no Peru, os incas ofereceram um resgate em ouro aos
espanhóis, por sua libertação. O que não
chegou a acontecer porque Atahualpa foi assassinado antes disso. Consta que os incas teriam escondido esse
tesouro, que ainda poderia estar lá, numa região longínqua, na entrada do
Oriente, no Equador. O filme põe
aventureiros em busca desse suposto tesouro.
Atahualpa, cujo nome é o mesmo do imperador inca, perde a namorada, que
está de mudança para outro lugar, e decide, então, largar o emprego e
envolver-se com outros aventureiros, incluindo um estadunidense, em busca desse
ouro. O que pode render até um bang-bang. A ideia é boa, mas a realização,
mediana. 100 min.
@mostrasp
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