Antonio Carlos Egypto
ABE.
Brasil, 2019. Direção: Fernando
Grostein Andrade. Com Noah Schnapp, Seu
Jorge, Dagmara Dominczyk, Arian Moayed, Gero Camilo. 86 min.
Curiosamente, Abe (Noah Schnapp) não
tem amigos, exceto virtualmente. Suas andanças são em busca de aperfeiçoar seu
talento culinário e sua vida gira em torno da família. Uma cena mostra seu aniversário com familiares
dos dois lados, pai, mãe e avós, e só.
Pelo lado da mãe, ele é judeu e se
chama Avraham (em hebraico) ou Abraham (em inglês). Pelo lado do pai, é muçulmano e chamado de
Ibrahim (em árabe), sendo que o pai, na verdade, não é religioso, é ateu. Por tudo isso, ele escolheu ser chamado de
Abe. Pelo menos, é o que ele gosta.
Os problemas decorrentes dessas
identidades diversas aparecem como conflitantes, a partir da própria
comida. Ele não sabe se pratica o jejum
do Ramadan, come porco ou faz bar mitzvah. As refeições, quando reúnem os dois lados da
família, sempre acabam mal. Vai daí que Abe resolve se dedicar à fusão
gastronômica, com a ajuda de um chef
brasileiro, vivido por Seu Jorge, a partir da ideia de que misturar sabores
pode unir as pessoas. Será que
funcionará?
Ideias como essa perpassam a trama,
com frases do tipo autoajuda: “seja você mesmo”, “a família a gente não
escolhe” e outras do gênero. É raso, mas
pode funcionar para os mais jovens. O
uso e abuso das mensagens de Internet, a colocação de palavras na tela, em
ritmo acelerado, dialogam justamente com esse público.
Há um evidente bom gosto na trilha
sonora que acompanha as peripécias de Abe e seus relacionamentos com
adultos. A música parece se dirigir mais
aos adultos do que aos que têm doze anos.
Conta com o talento de Jacques Morelembaum, música até de Tom Jobim, e
termina já nos créditos finais muito bem, com a milonga “Moro Judio”, de Jorge
Drextler.
Que adolescentes se identificarão com
um personagem como esse, num filme brasileiro, falado em inglês, eu não
sei. Parece muito distante de
representar a realidade dos jovens brasileiros, mesmo dos que são ricos e
vivem, ou viveram, no exterior. Embora o filme não deixe de mostrar que mesmo
futuros chefs de cozinha bem
aquinhoados de posses e talento culinário tenham que ralar, trabalhar muito e
fazer coisas chatas, difíceis ou sem glamour.
Menos mal.
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