terça-feira, 13 de abril de 2021

ZIMBA + ALVORADA

   Antonio Carlos Egypto

 



ZIMBA, dirigido por Joel Pizzini, é um documentário nacional que resgata o trabalho importantíssimo para o teatro brasileiro do polonês Zbigniew Ziembinski (1908-1978).  Ele aportou por aqui nos anos 1940, adotou o país e foi adotado pelo Brasil.  Ficou aqui até morrer e transformou o nosso teatro.  Na verdade, criou o teatro moderno brasileiro contando com sua bagagem europeia, já então muito rica e variada, como ator e encenador.


Dirigiu peças que marcaram a história teatral do país, montagens de tal modo inovadoras, em todos os aspectos, que nunca deixarão de ser citadas e lembradas.  É o caso de “O Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, em 1943, remontada por ele nos anos 1970.  Foi Ziembinski quem transformou Nelson Rodrigues em escritor teatral, a partir do reconhecimento da importância do texto, da sintaxe e da representatividade cultural do autor de “A Vida Como Ela É”, coluna jornalístico/literária famosa.

 

Zimba teve atuação fundamental em grupos como “Os Comediantes”, no Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, na companhia cinematográfica Vera Cruz, no teatro exibido pela TV, na formação de atores e atrizes que se destacaram e se tornaram nomes de primeira grandeza do teatro brasileiro. 

 

O filme ZIMBA faz uma seleção e uma colagem a partir de um vasto material sobre Ziembinski em uma montagem sofisticada.  Revela a figura e sua obra, ao longo do tempo, indo e vindo, sem nunca perder o fio da meada nem o foco na arte, que é o que importa.  Não se preocupa com didatismo, mas consegue explicar tudo muito bem para quem não saiba de quem se trata.  A personalidade de Zimba e seus métodos de trabalho estão lá por inteiro.  Os sentimentos que ele sempre despertou nos outros, sua capacidade criativa e revolucionária, a importância cultural que ele legou ao seu país de adoção.  Tudo isso num ritmo ágil e envolvente, contando com a narração de Nathalia Timberg, Camilla Amado e Nicette Bruno.  Um registro indispensável para o teatro e a cultura brasileiros que o documentário realiza com grande competência em apenas 78 minutos.

 




ALVORADA, dirigido por Anna Muylaert e Lô Politi, 90 min, nos remete a um período traumático da história política brasileira recente, o impeachment de Dilma Rousseff.

 

A equipe de filmagem acompanhou o que acontecia no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência, após a admissibilidade do impedimento ter sido aprovada na Câmara dos Deputados.  Acho que todos se lembram daquela sessão em que os parlamentares votavam citando seus familiares, suas cidades de origem ou destilando ódio, como aquele voto em homenagem ao torturador Brilhante Ustra.  Foi vergonhoso, repercutiu mal no exterior, mas estava feito.  Agora era esperar a sessão do Senado, presidida pelo STF, em que Dilma voltaria a se defender.  A rigor, não existiam mais esperanças. O governo tinha acabado.  A presidente estava afastada.  Michel Temer, o vice, assumira interinamente a presidência.

 

O que se vê no filme é o que se passa nesse período de espera e preparo da defesa final.  Dilma conversa calmamente com a equipe, fala de suas ideias, leituras, comenta coisas cotidianas, com evidente equilíbrio, num momento penoso para ela.  Ao contrário do que se chegou a aventar na imprensa, nenhum descontrole ou desespero.  Uma mulher no seu eixo.  E botando limites à filmagem, preservando sua intimidade e algumas discussões políticas que deveriam ser reservadas.  E ainda recebendo apoios de organizações populares.

 

Por que rever essa filmagem agora? Para nos lembrar da democracia em risco, que se rompeu a partir daí?  Talvez.  Mas o clima é nostálgico, triste, melancólico.  Algo estava se perdendo ali.  E não era pouca coisa.

 

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