domingo, 3 de janeiro de 2021

AZNAVOUR POR CHARLES

Antonio Carlos Egypto

 




AZNAVOUR POR CHARLES (Le Regard de Charles).  França, 2019.  Direção de Marc di Domenico.  Documentário.  Voz de Romain Duris.  83 min.

 

 Charles Aznavour (1924-2018) é um dos maiores ícones da cultura francesa.  Cantor de enorme sucesso internacional, compositor (letrista) e ator de cinema, deixou sua marca indelével nas expressões culturais do século XX.

 

Entre suas canções famosas, basta lembrar algumas que todo mundo conhece (mesmo que não identifique pelo nome): La Bohème, She (Tous Les Visagens de l’Amour), For Me Formidable, Que C’Est Triste Venise, Hier Encore, Il Faut Savoir, The Old Fashioned Way (Les Plaisirs Démodés) estão entre as mais de mil músicas gravadas por ele, ao longo de 80 anos de uma brilhante carreira.

 

Trabalhou como ator de cinema, com diretores importantes, como François Truffaut, em “Atirem no Pianista” (1960), com Claude Chabrol, em “Vidas em Jogo” (1976) e em “Os Fantasmas do Chapeleiro” (1982), com Jean Cocteau, em “O Testamento de Orfeu” (1959), com Claude Lelouch, em “Viva La Vie!” (1984), com Volker Schlöndorff, em “O Tambor” (1979) e com Atom Egoyan, de origem armênia como ele, em “Ararat” (2002).  Foram mais de 60 filmes, que nele tudo foi vasto e grandioso.

 

O que podemos ver agora em “Aznavour Por Charles” é uma nova faceta do talento dele: as imagens que ele filmou ao longo da vida.  É dessa matéria prima que se nutre o documentário construído e editado por Marc di Domenico.

 





Em 1948, a maior cantora francesa de todos os tempos, Edith Piaf (1915-1963), deu a Charles Aznavour um presente que o encantou, uma câmera.  Ele começou a filmar e nunca mais parou.  Registrava o que via e lhe chamava a atenção nas viagens que fazia por todos os cantos.  Interessado nas pessoas, nos costumes, nos lugares e no que o envolvia profissionalmente.  Filmava também suas mulheres, claro.  Por vezes, até “dirigia” as filmagens que suas mulheres faziam dele.  Mas não buscava “selfies”, registrava o que via e lhe interessava no outro, como uma forma de se aproximar do que não conhecia.

 

Guardava esses rolos todos que acumulou ao longo do tempo junto com registros que outros faziam de suas apresentações na carreira musical e nos filmes de que participava.  Para tal, tinha um cômodo especial e secreto só para guardar tudo isso.

 

Percebendo que o final da vida estava próximo, já com mais de 90 anos, abriu seu tesouro ao cineasta Marc di Domenico, para que fizesse o “seu” filme, confiando em que ele saberia como utilizar todo aquele material para que não se perdesse para sempre.

 

Conhecemos, então, um pouco da vida e das imagens que Aznavour escolheu filmar, ao lado das imagens dele próprio, embaladas por sua música.  O acervo também continha cadernos de anotações e reflexões com muitos textos escritos por Aznavour, que foram a base da narração do filme, que conta a história do artista e de suas imagens filmadas pela voz do ator Romain Duris. Fascinante. 

 

O diário filmado de Aznavour se torna, assim, mais um legado da grande obra que marcou sua vida artística.  Imagens da câmera original de Piaf, que ele nunca abandonou, de Super 8, 16 mm, compõem esse painel do trabalho de “cineasta” de Charles Aznavour.  E revela uma sensibilidade e uma curiosidade humanas contundentes, em sua simplicidade.

 

 

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