Antonio Carlos
Egypto
Lyon, uma das mais importantes e populosas
cidades francesas, pode ser lembrada pelo rei dos animais que a simboliza e
está presente em toda parte por lá. Pode ser lembrada pelo luxo de ser uma
cidade banhada por dois belos rios: o Ródano e o Saône, que formam uma
península charmosíssima. Pode ser
lembrada como grande centro gastronômico mundial. Pode ser lembrada por suas traboules,
passagens, caminhos estreitos entre pátios, que ligam ruas no traçado urbano,
que marcam a velha Lyon, com o bairro renascentista mais extenso da
França. Pode ser lembrada pela indústria
da seda, pelo progresso industrial e por muitas rebeliões dos artesãos, dos
operários que, no século XIX, forjaram o lema “Viver trabalhando, Morrer
combatendo”, e pelo banho de sangue que se seguiu. Ou por ser a capital francesa da resistência
na Segunda Guerra Mundial e pelo destino trágico dos presos e torturados pela
Gestapo nazista. Pode, ainda, ser lembrada
como aquela região gaulesa que resistia à ocupação romana, então chamada
Lugdunum, capital provincial da Gália.
Asterix andou por lá.
Lyon também pode ser lembrada pelos seus
técnicos e inventores, em especial, pelos irmãos Louis e Auguste Lumière, que
lá inventaram o cinematógrafo e fizeram o primeiro filme da história, que foi
projetado numa tela para que todos pudessem ver ao mesmo tempo. Estava criado o cinema. Que filme foi esse? A saída dos operários da fábrica
Lumière. O proprietário era Antoine
Lumière, que produzia materiais e equipamentos para fotografia.
Para quem gosta de cinema como eu, foi
emocionante passear pelo quarteirão de Lyon onde se situou essa fábrica e está
o hangar do primeiro filme da história.
Lá está a mansão onde viveram os Lumière, transformada em instituto e
expondo a evolução técnica e artística dessa aventura humana. Equipamentos, filmes, fotos, cartazes, que
remontam aos primórdios da criação do cinema, estão á vista de todos, revelando
a trajetória de uma invenção que mudaria o mundo.
A primeira vez que as imagens animadas saíram
das caixinhas e ganharam as paredes e as telas aconteceu no subsolo do Grand
Café no Boulevard des Capucines, em
Paris, em 28 de dezembro de 1895.
Lá estava o cinematógrafo dos Lumière, que captou e projetou as imagens
da saída da fábrica dos operários, principalmente das operárias, que
trabalhavam para o pai deles, Antoine, em Lyon.
Impossível dissociar Lyon da criação do cinema, portanto. De lá vieram seus criadores, os equipamentos
que tornaram possível a aventura e o próprio filme projetado.
Eu queria sentir mais de perto o clima, o
ambiente, os espaços, a cidade. O
contexto que criou a sétima arte. A
sensação que passa é de tranquilidade, dedicação, competência, num ambiente
inegavelmente privilegiado, de elite.
Daí sairia uma incrível diversão popular, que acabaria por se
transformar, pouco a pouco, numa arte refinada, insubstituível, e num
entretenimento de massa muito sofisticado.
Desde que a fotografia foi animada, colorida,
anexada ao som, até os impressionantes avanços tecnológicos da atualidade, não
se passou muito tempo, historicamente falando.
São pouco mais de 120 anos. Muito
pouco para a história da humanidade, uma evolução rápida e fantástica. E hoje o cinema faz parte da vida de todas as
pessoas pelo mundo, de diferentes formas, invade as casas, os computadores, os
celulares, os espaços públicos. As
imagens estão em toda parte. A experiência
emocional do cinema permanece viva, como aquele susto da chegada do trem na
estação, que os Lumière aprontaram para a primeira turma de espectadores da
história. Foi uma delícia passear pela
cidade francesa, onde tudo isso teve origem.
Parabéns pelo texto, reportagem e testemunho de uma visita, uma imersào na História e na história do cinema. Se me permitir gostaria de compartilhar na minha página no Facebook. Paulo Antunes - jornalista e cinéfilo
ResponderExcluirSim, pode reproduzir, fique à vontade. É só não alterar e por a autoria. Obrigado pelo comentário.
ExcluirQue bom que estão vivendo essa experiência. Corações apaixonados pela sétima arte, devem estar batendo bem forte. Bjs.
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