quinta-feira, 19 de setembro de 2019

LYON E O CINEMA


Antonio Carlos Egypto




Lyon, uma das mais importantes e populosas cidades francesas, pode ser lembrada pelo rei dos animais que a simboliza e está presente em toda parte por lá. Pode ser lembrada pelo luxo de ser uma cidade banhada por dois belos rios: o Ródano e o Saône, que formam uma península charmosíssima.  Pode ser lembrada como grande centro gastronômico mundial.  Pode ser lembrada por suas traboules, passagens, caminhos estreitos entre pátios, que ligam ruas no traçado urbano, que marcam a velha Lyon, com o bairro renascentista mais extenso da França.  Pode ser lembrada pela indústria da seda, pelo progresso industrial e por muitas rebeliões dos artesãos, dos operários que, no século XIX, forjaram o lema “Viver trabalhando, Morrer combatendo”, e pelo banho de sangue que se seguiu.  Ou por ser a capital francesa da resistência na Segunda Guerra Mundial e pelo destino trágico dos presos e torturados pela Gestapo nazista.  Pode, ainda, ser lembrada como aquela região gaulesa que resistia à ocupação romana, então chamada Lugdunum, capital provincial da Gália.  Asterix andou por lá.



Lyon também pode ser lembrada pelos seus técnicos e inventores, em especial, pelos irmãos Louis e Auguste Lumière, que lá inventaram o cinematógrafo e fizeram o primeiro filme da história, que foi projetado numa tela para que todos pudessem ver ao mesmo tempo.  Estava criado o cinema.  Que filme foi esse?  A saída dos operários da fábrica Lumière.  O proprietário era Antoine Lumière, que produzia materiais e equipamentos para fotografia.

Para quem gosta de cinema como eu, foi emocionante passear pelo quarteirão de Lyon onde se situou essa fábrica e está o hangar do primeiro filme da história.  Lá está a mansão onde viveram os Lumière, transformada em instituto e expondo a evolução técnica e artística dessa aventura humana.  Equipamentos, filmes, fotos, cartazes, que remontam aos primórdios da criação do cinema, estão á vista de todos, revelando a trajetória de uma invenção que mudaria o mundo.




A primeira vez que as imagens animadas saíram das caixinhas e ganharam as paredes e as telas aconteceu no subsolo do Grand Café no Boulevard des Capucines, em  Paris, em 28 de dezembro de 1895.  Lá estava o cinematógrafo dos Lumière, que captou e projetou as imagens da saída da fábrica dos operários, principalmente das operárias, que trabalhavam para o pai deles, Antoine, em Lyon.  Impossível dissociar Lyon da criação do cinema, portanto.  De lá vieram seus criadores, os equipamentos que tornaram possível a aventura e o próprio filme projetado.

Eu queria sentir mais de perto o clima, o ambiente, os espaços, a cidade.  O contexto que criou a sétima arte.  A sensação que passa é de tranquilidade, dedicação, competência, num ambiente inegavelmente privilegiado, de elite.  Daí sairia uma incrível diversão popular, que acabaria por se transformar, pouco a pouco, numa arte refinada, insubstituível, e num entretenimento de massa muito sofisticado.



Desde que a fotografia foi animada, colorida, anexada ao som, até os impressionantes avanços tecnológicos da atualidade, não se passou muito tempo, historicamente falando.  São pouco mais de 120 anos.  Muito pouco para a história da humanidade, uma evolução rápida e fantástica.  E hoje o cinema faz parte da vida de todas as pessoas pelo mundo, de diferentes formas, invade as casas, os computadores, os celulares, os espaços públicos.  As imagens estão em toda parte.  A experiência emocional do cinema permanece viva, como aquele susto da chegada do trem na estação, que os Lumière aprontaram para a primeira turma de espectadores da história.  Foi uma delícia passear pela cidade francesa, onde tudo isso teve origem.




3 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, reportagem e testemunho de uma visita, uma imersào na História e na história do cinema. Se me permitir gostaria de compartilhar na minha página no Facebook. Paulo Antunes - jornalista e cinéfilo

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    1. Sim, pode reproduzir, fique à vontade. É só não alterar e por a autoria. Obrigado pelo comentário.

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  2. Que bom que estão vivendo essa experiência. Corações apaixonados pela sétima arte, devem estar batendo bem forte. Bjs.

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