LEGALIDADE.
Brasil, 2018. Direção: Zeca
Brito. Com Cleo Pires, Leonardo Machado,
Fernando Alves Pinto, Letícia Sabatella, José Henrique Ligabue. 121 min.
O filme de Zeca Brito, com roteiro dele e de
Léo Garcia, mescla ficção e realidade para contar fatos muito importantes da
nossa história contemporânea.
“Legalidade” trata da resistência coordenada pelo governador gaúcho
Leonel Brizola a um golpe militar em curso, em 1961, com apoio dos Estados
Unidos. Era o que estava no horizonte
com a renúncia do então presidente Jânio Quadros e as ações visando a impedir a
posse do vice-presidente João Goulart, que estava em viagem à China comunista.
Na realidade, desde a morte de Getúlio Vargas,
passando pela eleição de Juscelino Kubitschek, conseguiu-se impedir a eclosão
do golpe. Golpe frustrado por reações
corajosas, escoradas no apoio popular, como o próprio suicídio de Vargas ou a
ação decisiva do marechal Lott. Da mesma
forma, o papel heróico, em 1961, coube a Brizola, que jogou todas as suas
forças na defesa da Constituição, formando a cadeia da legalidade a partir do
próprio Palácio Piratini, e a formação dos grupos dos onze, país afora,
prometendo resistir até pelas armas para garantir a legalidade. Conseguiu, embora o próprio Jango tenha
negociado o parlamentarismo para poder assumir, frustrando as expectativas dos
que lutaram por sua posse, ao menos em parte.
Jango recobrou plenos poderes, um ano depois, por meio de um plebiscito. Mas o golpe acabou se realizando em 1964.
A reconstrução desses fatos é fundamental para
que não se perca o fio da história e por enfatizar a importância da resistência
popular na democracia. O uso complementar de material de arquivo jornalístico
da época dá a dimensão da extensão e do significado que esse evento político
representou para o país.
No caso de “Legalidade’, o filme traz a ação
também para o ano de 2004, em que Brizola morreu, a partir da retomada de uma
trama ficcional, envolvendo um triângulo amoroso entre um militante e
jornalistas imersos naqueles fatos históricos.
Fatos que estão sendo pesquisados pela filha da jornalista do Washington
Post, Cecília, que foi para onde
convergiu a questão amorosa, mas também política, da narrativa.
Fantasias à parte, o filme gaúcho retoma um
momento importante, crucial, da nossa realidade política. O papel central destinado a Leonel Brizola,
um inegável herói no filme, foi muito bem levado pelo ator Leonardo Machado,
morto precocemente no final de 2018.
Cleo Pires, Fernando Alves Pinto e Letícia Sabatella têm igualmente
ótimos desempenhos.
Um filme que merece ser conhecido, em especial
quando se pretende reescrever certos fatos históricos, negando a gravidade que
tiveram para o país, como a ditadura militar, que se consumou após os fatos
narrados em “Legalidade’ e permaneceu por 21 longos anos de opressão, que não
podem ser esquecidos.
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