Antonio Carlos
Egypto
ELLA &
JOHN (The Leisure Seeker). Estados Unidos, 2017. Direção: Paolo Virzì. Com
Helen Mirren, Donald Sutherland, Kristy Mitchell, Dick Gregory, Janel Moloney. 112 min.
O diretor e roteirista italiano Paolo Virzì
tem uma larga trajetória no cinema, com muitos prêmios importantes pelo
caminho. “Ella & John” é seu 13º.
filme. Entre os seus trabalhos
anteriores estão “A Primeira Coisa Bela”, de 2010, “Capital Humano”, de 2013, e
“Loucas de Alegria”, de 2016. São bons
filmes, realizados visando a atingir boas fatias de público, em produções
comerciais bem cuidadas, com bons atores e atrizes. E com equívocos, também.
“Ella & John” é, desta vez, um filme
holywoodiano, um road-movie,
protagonizado por uma dupla de veteranos notável: Helen Mirren (Ella) e Donald
Sutherland (John). Eles vão atravessar
os Estados Unidos, indo de Boston até a casa de Ernest Hemingway, em Key West.
Um detalhe: eles farão isso com um velho trailer,
antigamente usado para viagens familiares, que foi mantido na garagem de
casa. Serviu muito no passado, mas
estava sem uso e superado. Apelidado de caça
lazer – leisure seeker – que dá o
nome original ao filme, era visto como uma relíquia de família.
Outro detalhe: os dois são um casal bem idoso,
ela, com câncer, ele, com uma espécie de alzheimer, que vai corroendo sua
memória progressivamente, reduzindo a lucidez.
No entanto, ele é capaz de dirigir na estrada muito bem, ainda. Só que pode tomar decisões esdrúxulas, se for
deixado sozinho.
Terceiro detalhe: ambos resolvem fazer essa
viagem de trailer sozinhos, sem avisar os filhos ou informar para onde
vão. É uma espécie de última viagem de
suas vidas, para comemorar uma longa jornada juntos, embora ele, às vezes,
esqueça quem ela é.
O destino a alcançar tem tudo a ver com a vida
universitária de John, professor e profundo conhecedor de literatura, em
especial, da obra de Hemingway, que ele sabe em grande parte de cor, tantas
vezes foi visitada, consultada, ministrada aos alunos. Uma verdadeira paixão.
As peripécias vividas durante a viagem podem
ser facilmente imaginadas. Coisas de um
passado remoto, que já deveriam estar enterradas, vêm novamente à tona. Ao mesmo tempo, o afeto se renova, o
companheirismo, a cumplicidade e a tolerância.
Pelo menos, sempre que as sinapses cerebrais dele não falhem.
Ella comanda tudo com firmeza, mas com o corpo vulnerável.
Personagens em idade avançada e tendo de
encarar a morte próxima crescem significativamente nos roteiros
cinematográficos. O mundo envelhece, a
medicina prolonga a existência com melhor qualidade de vida, o mercado
pede. Bom para os atores e atrizes, que
também envelhecem, encontrando bons papéis, e de protagonistas. É uma oportunidade para vermos em cena
talentos como os de Helen Mirren e Donald Sutherland em primeiríssimo
plano. Só por aí já vale a pena ver
“Ella & John”. A situação criada é
bem desenvolvida, de modo geral. A
produção é boa, o diretor, competente e experimentado. O resultado não é brilhante, mas é bem bom.
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