sábado, 20 de janeiro de 2018

ME CHAME PELO SEU NOME


Antonio Carlos Egypto




ME CHAME PELO SEU NOME (Call Me By Your Name).  Itália/Estados Unidos, 2017.  Direção e roteiro: Luca Guadagnino.  Com Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel.  131 min.



“Me Chame Pelo Seu Nome” é um filme que aborda, com beleza e sutileza, o desabrochar da sexualidade, o desejo e o amor homoeróticos.  Sem deixar de considerar o contexto social inibidor, a quebra de expectativas, torna factível, e até suave, uma experiência homossexual entre dois homens jovens, Oliver (Armie Hammer) e Elio (Timothée Chalamet), no verão de 1983, no norte da Itália.  Já constatando e refletindo avanços reais nas mentalidades, que foram transformando preconceitos em tentativas de compreensão e acolhimento.

Magníficas locações no norte da Itália fazem a bela moldura do drama.  Uma produção caprichada e requintada, que seduz o espectador.  O problema está no elitismo da proposta.  Senão, vejamos.

Elio, aos 17 anos, passa seus verões numa casa de campo luxuosa da família.  Ele lê muito, absorve e discute literatura com seus pais e outros frequentadores da casa.  É inteligente, bem informado, toca piano e violão, conhece tanto música clássica quanto boa música popular da atualidade.  Seu pai é um renomado professor, especializado em cultura greco-romana, que costuma receber estagiários qualificados para ajudá-lo em suas pesquisas, nos verões lá passados.  Ali, eles são hospedados, servidos por diversos empregados, desfrutam de comida sofisticada, piscinas naturais, natureza exuberante os envolve.

O estagiário da vez é Oliver, pesquisador norte-americano de 25 anos, desenvolvendo doutorado, que será objeto do interesse de Elio.  Este, por sua vez, vai vivendo suas primeiras experiências sexuais com a amiga Márzia, sob a aceitação tácita dos pais.  Esses mesmos genitores, evidentemente, serão capazes de entender e acolher a diversidade sexual.  Dinheiro tem de sobra, não há qualquer restrição quanto a isso. 




Convenhamos, num contexto como esse, tudo fica mais fácil, até o sofrimento é bonito de se ver, como as cenas finais do filme atestam.

Nada disso tira os méritos de “Me Chame Pelo Seu Nome”.  A direção de Luca Guadagnino, que também fez o belo “Um Sonho de Amor”, em 2009, é muito segura.  O roteiro, também do cineasta James Ivory, é muito bom.  Os dois atores centrais, Armie Hammer e Timothée Chalamet, dão um show de interpretação e revelam uma parceria em cena muito convincente.  O clima leve em que o drama é levado também é uma escolha feliz, já que as histórias de amor gay costumam ser muito carregadas de tensões, agressividade e incompreensões.  Evidentemente, não é preciso ser assim.  No caso, o contexto onde se dá a trama, e o local, favorecem um pouco demais a leveza.  Mas por que não?  Os ricos também amam, e sofrem, não é?

A produção é absolutamente global.  Envolve a Itália, do diretor Guadagnino, os Estados Unidos, a França e até mesmo o Brasil, por meio de Rodrigo Teixeira, da RT Features.  O filme é falado em várias línguas, conforme a necessidade das situações e personagens, inclusive o inglês.  Isso lhe permite concorrer ao Oscar, ao que parece, com boas chances em algumas categorias.  Se viesse a ser escolhido como melhor filme, não deixaria de ser, também, uma vitória brasileira, já que são os produtores que recebem o prêmio.

Conjecturas e fantasias à parte, será que a Academia de Hollywood já conseguiria hoje premiar um romance gay, o que ela quase fez com “Brokeback Mountain”, em 2006, mas que não rolou?  Recebeu, então, os prêmios de melhor diretor para Ang Lee, roteiro adaptado e trilha sonora original.  Mas o de melhor filme ficou para “Crash”. Verdade que "Moonlight", que venceu o ano passado,  incluia a questão gay, mas a discussão era mais ampla e focava as temáticas racial e social. Ali a Academia estava procurando se redimir das críticas que recebeu quanto à discriminação das indicações de negros no Oscar. Novos tempos, novas possibilidades?  A conferir.


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