Antonio Carlos
Egypto
ME CHAME PELO SEU NOME (Call Me By Your Name). Itália/Estados
Unidos, 2017. Direção e roteiro: Luca
Guadagnino. Com Armie Hammer, Timothée
Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel. 131 min.
“Me Chame Pelo Seu Nome” é um filme que aborda, com
beleza e sutileza, o desabrochar da sexualidade, o desejo e o amor
homoeróticos. Sem deixar de considerar o
contexto social inibidor, a quebra de expectativas, torna factível, e até
suave, uma experiência homossexual entre dois homens jovens, Oliver (Armie
Hammer) e Elio (Timothée Chalamet), no verão de 1983, no norte da Itália. Já constatando e refletindo avanços reais nas
mentalidades, que foram transformando preconceitos em tentativas de compreensão
e acolhimento.
Magníficas locações no norte da Itália fazem a bela
moldura do drama. Uma produção
caprichada e requintada, que seduz o espectador. O problema está no elitismo da proposta. Senão, vejamos.
Elio, aos 17 anos, passa seus verões numa casa de
campo luxuosa da família. Ele lê muito,
absorve e discute literatura com seus pais e outros frequentadores da
casa. É inteligente, bem informado, toca
piano e violão, conhece tanto música clássica quanto boa música popular da
atualidade. Seu pai é um renomado
professor, especializado em cultura greco-romana, que costuma receber
estagiários qualificados para ajudá-lo em suas pesquisas, nos verões lá
passados. Ali, eles são hospedados,
servidos por diversos empregados, desfrutam de comida sofisticada, piscinas
naturais, natureza exuberante os envolve.
O estagiário da vez é Oliver, pesquisador
norte-americano de 25 anos, desenvolvendo doutorado, que será objeto do
interesse de Elio. Este, por sua vez,
vai vivendo suas primeiras experiências sexuais com a amiga Márzia, sob a
aceitação tácita dos pais. Esses mesmos
genitores, evidentemente, serão capazes de entender e acolher a diversidade
sexual. Dinheiro tem de sobra, não há
qualquer restrição quanto a isso.
Convenhamos, num contexto como esse, tudo fica mais
fácil, até o sofrimento é bonito de se ver, como as cenas finais do filme
atestam.
Nada disso tira os méritos de “Me Chame Pelo Seu
Nome”. A direção de Luca Guadagnino, que
também fez o belo “Um Sonho de Amor”, em 2009, é muito segura. O roteiro, também do cineasta James Ivory, é
muito bom. Os dois atores centrais,
Armie Hammer e Timothée Chalamet, dão um show
de interpretação e revelam uma parceria em cena muito convincente. O clima leve em que o drama é levado também é
uma escolha feliz, já que as histórias de amor gay costumam ser muito carregadas de tensões, agressividade e
incompreensões. Evidentemente, não é
preciso ser assim. No caso, o contexto
onde se dá a trama, e o local, favorecem um pouco demais a leveza. Mas por que não? Os ricos também amam, e sofrem, não é?
A produção é absolutamente global. Envolve a Itália, do diretor Guadagnino, os
Estados Unidos, a França e até mesmo o Brasil, por meio de Rodrigo Teixeira, da
RT Features. O filme é falado em várias
línguas, conforme a necessidade das situações e personagens, inclusive o
inglês. Isso lhe permite concorrer ao
Oscar, ao que parece, com boas chances em algumas categorias. Se viesse a ser escolhido como melhor filme,
não deixaria de ser, também, uma vitória brasileira, já que são os produtores
que recebem o prêmio.
Conjecturas e fantasias à parte, será que a
Academia de Hollywood já conseguiria hoje premiar um romance gay, o que ela quase
fez com “Brokeback Mountain”, em 2006, mas que não rolou? Recebeu, então, os prêmios de melhor diretor
para Ang Lee, roteiro adaptado e trilha sonora original. Mas o de melhor filme ficou para “Crash”. Verdade que "Moonlight", que venceu o ano passado, incluia a questão gay, mas a discussão era mais ampla e focava as temáticas racial e social. Ali a Academia estava procurando se redimir das críticas que recebeu quanto à discriminação das indicações de negros no Oscar. Novos tempos, novas possibilidades? A conferir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário