segunda-feira, 23 de outubro de 2017

DESTAQUES DA MOSTRA 41



DESTAQUES  DA 41ª. MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA SP 

Antonio Carlos Egypto


O MOTORISTA DE TÁXI, de Jang Hoon, da Coreia do Sul, é um belo filme, com uma narrativa ágil e envolvente num tema político: a luta pela democracia em 1980 na cidade de Gwangju, que produziu uma revolta, sobretudo estudantil, violentamente reprimida pelas forças policiais e que foi escandalosamente manipulada pela mídia, na ditadura militar então vigente.  O filme evolui para a aventura e a ação, passa um pouco pela comédia e tem elementos sentimentais na sua bem resolvida trama. Está indicado pela Coreia para a disputa do Oscar de filme estrangeiro.
Mas não espere perfeição.  Há erros de continuidade, como o táxi que recebeu uma série de balas na lataria e que aparece recuperado em cena imediatamenbte posterior.  São pecadilhos que não comprometem o filme, que é empolgante e inteligente.


O MOTORISTA DE TÁXI


À SOMBRA DA ÁRVORE (ou DEBAIXO DA ÁRVORE), o filme islandês, que também é o indicado ao Oscar de filme estrangeiro pelo seu país, inspira-se no clássico curta de animação “Vizinhos” (1952), do canadense Norman MacLaren.  Quem se lembra dele? 
Aqui, a narrativa se concentra na disputa irracional e intolerante entre vizinhos, mas acrescida por uma separação de casal litigiosa, que complica as coisas.  O que pode a mente humana perturbada por incômodos produzir nas relações face-a-face?  No filme de Hafsteinn Gunnar Sigurdsson, as personagens femininas mostram mais desequilíbrios do que os homens.  As feministas podem não gostar disso, mas o filme funciona muito bem e os homens podem ser menos loucos, mas são fracos e incompetentes.

ESPLENDOR, o novo filme de Naomi Kawase, do Japão, tem a delicadeza e a afetividade que o seu cinema costuma apresentar e a capacidade de lidar com os conflitos de forma construtiva.  A perda progressiva da visão para um fotógrafo e as dificuldades que o trabalho de escrever versões de filmes para deficientes visuais envolve são o mote de um encontro renovador entre os dois personagens.  Muito terrno e bonito.

FELICITÉ, de Alain Gomis, nos leva ao Congo, uma cantora e sua bela música, que convivem com a pobreza e com a falta de atendimento digno à saúde que tornam dramática a situação, quando o filho dela sofre um acidente grave.  O filme conta essa história de forma fluida e esteticamente elaborada, mas a cópia exibida estava escura demais, dificultando o fruir dos detalhes, nas cenas noturnas.  Uma grande atriz protagoniza o longa de produção francesa, belga, senegalesa, alemã e libanesa.

HUMAN FLOW  -- Não existe lar se não há para onde ir, do multiartista chinês Ai Wei Wei, que também assina o cartaz da 41ª. Mostra, é uma ampla reportagem sobre o flagelo dos refugiados nos últimos tempos.  O documentário, de produção alemã, percorreu 23 países em busca de mostrar as pessoas e os campos de refugiados e tudo o que envolve essa grande tragédia da atualidade.  Basta dizer que são 65 milhões de pessoas no mundo que não têm um lar ou como voltar a ele.  Refugiados são as pessoas que fogem da guerra, da fome, da miséria, da perseguição política e religiosa.  Gente que não tem escolha e está sendo recebida em fronteiras fechadas, muros e cercas de arame farpado.
O filme teve que editar um vastíssimio material, o que o obrigou a ter de passar rápido por cada situação e não conseguiu encontrar um personagem ou símbolo que alinhavasse a tragédia relatada. Quem costura um pouco os capítulos é o próprio diretor, que interage com seu objeto e é uma figura sensível e humanizadora.


AI WEI WEI no cinema do Shopping Frei Caneca


TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME, o filme estadunidense, de Martin McDonagh, tem uma história fascinante e uma personagem feminina forte e decidida.  Ela cobra das autoridades policiais locais pelo assassinato da filha.  E o faz de modo competente e original, o que cria conflitos saborosos por lá.  O policial alvo das cobranças é um personagem muito interessante, também.  Frances McDormand e Woody Harrelson são os principais destaques de um filme que flui muito bem e mantém o suspense a que se propõe.


O JOVEM KARL MARX é um filme dirigido por Raoul Peck, que esteve há pouco nos nossos cinemas, com “Eu Nâo Sou Seu Negro”.  Aqui, ele se debruça sobre a vida e a obra de Karl Marx (1818-1883), que pode ser considerado, ao lado de Sigmund Freud (1856-1939), a mais importante referência das ciências humanas dos séculos XIX e XX.  Trata também da relação que Marx estabeleceu com seu parceiro de estudos e militância política, Friedrich Engels (1820-1895), de grande peso e importância, de 1843 a 1848, anos de juventude que culminaram nas revoluções europeias e no famoso manifesto do partido comunista.  O filme adota uma narrativa clássica muito apropriada ao seu objetivo, que é também didático e informativo.  E o resultado é ótimo. Correto na história e no estabelecimento dos conceitos que nasciam para influenciar o mundo até os dias de hoje.  Produção franco-germânica.



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