Antonio Carlos
Egypto
DE CANÇÃO EM CANÇÃO (Song to Song). Estados
Unidos, 2017. Direção e roteiro:
Terrence Malick. Com Michael Fassbender, Ryan Gosling, Rooney
Mara, Natalie Portman. 129 min.
Sempre apreciei no diretor Terrence Malick (de “Além
da Linha Vermelha”, 1998, “A Árvore da Vida”, 2011, “Amor Pleno”, 2012) o seu
cultivo pelo belo. Seus filmes têm
lindas casas, mansões, locações atraentes, natureza exuberante. Tudo sempre com esmero nos enquadramentos,
nos ângulos e movimentos de câmera, em cenas caprichadas, bem feitas. De modo que se pode apreciar seu trabalho e
algo sempre fica. Por outro lado, sua
queda pela questão mística, religiosa, nunca acrescentou nada de relevante, ao
menos para mim.
O amor é um dos seus grandes focos, sob diversos
matizes, mas o desencontro, a frustração e a solidão aparecem temperadas pelo
perdão, pelo recomeço e pela busca de uma autenticidade pessoal. A pretensão de relacionar essas coisas a um
Cosmos, a um Deus, a uma religiosidade, enfim, soa forçada, deslocada. É preciso ignorá-la um pouco para usufruir
dos filmes dele. A forma é sempre muito
mais consistente e sedutora do que o conteúdo ou a mensagem, se pudermos falar
assim.
Em “De Canção em Canção”, o cineasta nos leva à cena
musical de Austin, no Texas. Em meio ao frisson dos shows e festivais de música,
seus personagens vivem uma busca frenética e bastante atrapalhada de uma
utópica liberdade, que é difícil se saber do que se trata, realmente.
As cenas que compõem uma trama esfarelada, rarefeita,
são, na verdade, gratuitas, vazias de um sentido que, paradoxalmente, Malick
parece sempre buscar. Uma agitação que
não leva a lugar nenhum, com personagens sem força ou suficiente consistência
psicológica. Muita juventude, muita
pirotecnia, em cima de quase nada.
Experimentações que se perdem, em meio a muita música, mas muito pouca
substância.
Um elenco de astros, atores e atrizes talentosos,
acaba um tanto desperdiçado, porque esses personagens escorrem pelo ralo. Michael Fassbender, Ryan Gosling, Rooney Mara
e Natalie Portman, podem servir de chamariz em busca de bilheteria, mas acabam
não entregando o que prometem, apesar do empenho físico que põem em cena. O filme é raso, mas com ambições a
profundidade. Beleza que acaba
entediando, porque nem consegue simplesmente divertir.
Eu gostei, mas é meio confuso. Terrence Malick é um daqueles diretores que ou se ama ou se odeia. Sua estética apurada, de linguagem rebuscada e muito existencialismo conquista o público com a mesma intensidade que o afasta, e um exemplo dessa relação de amor e ódio é seu novo trabalho DE CANÇÃO EM CANÇÃO, que novamente traz um elenco estelar com Michael Fassbender, Ronney Mara, Ryan Gosling (Do óptimo Novo Filme Blade Runner 2049 ), Natalie Portman e ainda conta com várias outras participações mais do que especiais, que falaremos mais a frente. DE CANÇÃO EM CANÇÃO é a prova de que o talento contemplativo e filosófico de Malick pode abordar vários temas e tomar várias formas, afinal, não importa o que façamos ou como vivamos – a reflexão sempre será necessária. Nossa existência depende disso, pois assim como disse o filósofo francês René Descartes no livro O Discurso do Método de 1637: “Desde que eu duvide, eu penso; porque eu penso, eu existo”.
ResponderExcluir