Antonio Carlos
Egypto
INTRODUÇÃO À MÚSICA DO SANGUE. Brasil, 2015.
Direção e roteiro: Luiz Carlos Lacerda.
Com Ney Latorraca, Bete Mendes, Armando Babaioff, Greta Antoine. 95 min.
“Introdução à Música do Sangue” é um exemplo de filme
autoral brasileiro que, apesar de sua sensibilidade e beleza, provavelmente
alcançará um número reduzido de espectadores.
No foco da narrativa, um casal de idosos vive, no
interior de Minas Gerais, ainda sem energia elétrica, uma existência muito
simples e pobre, bem discrepante em relação às possibilidades tecnológicas que
se estabeleceram ao longo do século XX e deslancharam no XXI. Ney Latorraca e Bete Mendes, dois intérpretes
brilhantes, compõem os personagens do casal de idosos. Ela, à espera ansiosa da chegada da luz
elétrica, para poder costurar numa máquina que lhe poupe o esforço físico do
pedalar mecânico. Já ele, rejeita a
chegada da energia elétrica, não quer mudar seu mundo, nem ter de pagar uma
conta mensal de algo que ele julga desnecessário.
Por outro lado, há o despertar da sexualidade de
menina agregada à vida do casal, quando por lá aparece um jovem peão, que vai
acabar produzindo conflitos naquela vida pacata e parada no tempo.
Angústias vêm à tona, a repressão, o desejo, o
descontrole, se inserem na trama, instalando o drama e a tragédia, onde nada
parecia estar acontecendo. O que estava
por vir, aflora subitamente. O que
estava represado, emerge. O que estava
contido, transborda.
O filme parte do argumento inacabado do escritor
Lúcio Cardoso, com direção e roteiro de Luiz Carlos Lacerda e uma magnífica
fotografia de Alisson Prodlik.
“Introdução à Música do Sangue” é todo filmado com a luz natural do dia
e dos lampiões e velas acesos, à noite, o que contribui para criar toda uma
ambiência poética para esse mundo rural primitivo que retrata.
A direção de arte de Oswaldo Lioi, na zona rural de
Cataguazes, onde ocorreram as filmagens, nos insere muito bem naquele
ambiente. A música de David Tygel é
bonita e envolvente. E ainda se destaca
a belíssima melodia de Tom Jobim, “Derradeira Primavera”, em tratamento
instrumental. Será uma pena se esse trabalho
artístico de qualidade passar despercebido, enquanto tantas mediocridades
comerciais alcançam cifras expressivas de público.
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