Antonio Carlos
Egypto
LION – UMA JORNADA PARA CASA, dirigido por Garth
Davis, é um filme que tem uma causa: a das crianças abandonadas. Parte da história real do indiano Saroo
Bierley, que escreveu o romance autobiográfico A Long Way Home sobre suas lembranças da infância na Índia, da
perda nas ruas de Calcutá , da sua adoção por um casal de australianos e da sua
vida no novo país. O retorno à sua
aldeia natal na Índia se fará aos 25 anos de idade, a partir do aplicativo Google Earth, capaz de achar uma casa
perdida nos confins da Índia. Como se
vê, o filme também serve a interesses de propaganda. É daqueles filmes para
emocionar, com a participação do ator mirim indiano Sunny Pawar, muito bom, e
um elenco que tem Dev Patel (aquele de “Quem Quer Ser um Milionário?”), Nicole
Kidman, Rooney Mara e David Wenham. Cinco indicações ao Oscar 2017. 119 min.
JACKIE |
JACKIE, o filme estadunidense do já conceituado
diretor chileno Pablo Larraín, é uma cinebiografia de Jacqueline Kennedy. Mostra sua vida na Casa Branca, no período em
que ocorrem o assassinato do presidente John Kennedy e suas exéquias. Não aborda sua vida anterior, nem posterior,
ao lado do milionário grego Onassis. E o
interesse do filme não se prende apenas ao fato histórico, já sobejamente
conhecido, nem mesmo a quem era a famosa primeira-dama e suas reações. Pelo menos não só a isso. Na verdade, o que Larraín quer discutir é a
construção da narrativa. As versões em
jogo, a luta de Jackie para marcar, difundir e valorizar a trajetória do
presidente e seu legado, em meio a outros interesses e versões que pretendiam
minimizar o episódio e suas consequências.
Ela lutou pela sua verdade, sabendo ser tão manipuladora quanto todas as
outras, junto à mídia da época e em busca dos símbolos que um sepultamento
marcante pode engendrar na mente das pessoas e na história. Esse é o grande mérito do filme, em tempos de
pós-verdade, em que os fatos nem contam mais, um tiro certeiro. Natalie Portman vive uma Jackie a um tempo
contida nos gestos, expressões e falas, mas forte e decidida, no figurino que
marcou época. O elenco tem ainda Peter
Sarsgaard, Greta Gerwig, Billy Crudup e John Hurt. Três indicações ao Oscar
2017. Duração: 100 min.
MARGUERITE & JULIEN |
MARGUERITE & JULIEN: UM AMOR PROIBIDO procura
tratar do incesto como um tema universal, essencial, que independe de
contexto. A sua interdição abrange, de
fato, todas as culturas, tempo e lugares.
Mas as reações, as punições e os sentimentos variam, evidentemente. O filme começa afirmando que Marguerite e
Julien viveram há muito tempo atrás, sem precisar em que época. Mas o que se vê, o castelo, a ambientação
rural, a locomoção por cavalos, as roupas, etc., remontam, digamos, ao século
XIX. No final, surge a informação de que
o casal morreu em 1603. Um jogo de
pebolim, uma máquina fotográfica Rolleiflex e até mesmo um helicóptero que
aparecem procuram embaralhar tudo. Mas
não existe essência sem contexto e a brincadeira não faz sentido, no dramalhão
em que se converterá a história. A
narrativa se perde na forma, embora o filme seja visualmente bonito, inclusive
com algumas soluções visuais atraentes e até um certo maneirismo, dispensável. A diretora, Valérie Donzelli, exagerou na
dose. O trabalho do casal de
protagonistas Anais Demoustier, como Marguerite, e Jérémie Elkaïm, como Julien,
não chega a salvar o filme, porque a moldura que os envolve é inconsistente,
mesmo sendo uma livre adaptação de um fato que sucedeu. Belo, sim, mas carente de veracidade. 105 min.
ATÉ O ÚLTIMO HOMEM |
ATÉ O ÚLTIMO HOMEM, de Mel Gibson, com Andrew
Garfield, Vince Vaughn, Teresa Palmer, Sam Worthington e Hugo Weaving, é um
filme de guerra paradoxal. Conta a
história verdadeira de Desmond Doss, um médico jovem que se alista
voluntariamente, por patriotismo, para servir na Segunda Guerra Mundial. Porém, como objetor consciente, se recusa a
pegar em armas e matar alguém, mesmo em meio às batalhas em que participa,
cuidando dos que se ferem. Além disso, é
vegetariano. Sobreviveu e acabou
condecorado com a Medalha de Honra, por ter salvado muita gente. O filme tem aquele estilo religioso e
moralista que conhecemos de Mel Gibson.
É longo e violento, com requintes sangrentos. Mostra os japoneses indestrutíveis, perigosos
e sem rosto. Ou seja, sem
humanidade. E, como observou o crítico
Celso Sabadin, não tem negros lutando na guerra. Pode?
No entanto, “Até o Último Homem” tem seus méritos: você entra na
batalha, vive a guerra por dentro, como se fosse um soldado ali metido. As cenas de guerra são espetaculares e
mostradas sob diferentes formas. A
filmagem é requintada e realista. Para
quem curte filmes de guerra, um prato cheio. Seis indicações ao Oscar 2017.
Duração: 138 min.
A GAROTA DESCONHECIDA |
A GAROTA DESCONHECIDA, dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, mais uma
vez põe em evidência um dilema moral. Desta vez o de uma jovem médica que não
atende a campainha após o expediente e fica sabendo que a pessoa que procurou o
consultório morreu. A partir daí o filme vai pouco a pouco moldando as ações
movidas pela culpa. É um belo trabalho, mas tem problemas com a verossimilhança
e com a solução do caso, que acontece em desacordo com o clima do filme. Durante os 106 minutos da projeção, não pude
evitar de pensar que os badalados irmãos belgas Dardenne já estiveram em melhor
forma. Com Adéle Haenel, Jérémie Renier,
Fabrizio Rongione.
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