quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

A QUALQUER CUSTO


Antonio Carlos Egypto




A QUALQUER CUSTO (Hell or High Water).  Estados Unidos, 2016.  Direção: David Mackenzie.  Com Jeff Bridges, Chris Pine, Ben Foster, Gil Birmingham.  103 min.



“A Qualquer Custo” é um filme que produz um diálogo frutífero entre passado e presente, por meio dos gêneros cinematográficos.  É um western sobre roubo de bancos, mesclado a um road movie, com elementos de comicidade.  Põe em convívio valores do novo e do velho Oeste, que estão em rota de colisão.

O mundo mudou, as cidades mudaram, os bancos se modernizaram, os conceitos morais são outros.  Ainda assim, é possível resgatar uma narrativa que traga de volta os elementos essenciais dos gêneros abordados?  Ainda há pequenas vilas que comportam bancos estruturados primitivamente e, portanto, fáceis de serem assaltados, pelo menos se os valores a serem roubados estiverem à disposição nos caixas.  E nessas localidades pode-se contar com a falta de câmeras e o relaxamento dos controles policiais.  No entanto, ainda haveria policiais às vésperas de se aposentar, convivendo com parceiros comanches dispostos, em nome da lei, a uma caçada aos bandidos implacável, como nos velhos tempos.




É verdade que os bancos, por tradicionais e limitados que sejam seus equipamentos, numa cidadezinha do Oeste norte-americano, manipulam as situações tendo em vista seus interesses e se valem de empréstimos parcimoniosos para perpetuar a pobreza, produzir falências e tomar posse de terras.  E que os chamados bandidos podem estar movidos por razões justas, a defesa das terras da família, juntando dinheiro de pequenos assaltos para recuperá-las.  Trata-se do que pode ser entendido, segundo o diretor, por uma criminalidade redentora, ou seja: pessoas boas fazem coisas más por razões nobres.

Por aí se vê que “A Qualquer Custo” é um filme moderno com aparência de velho, incluindo-se uma bela fotografia que remete aos antigos westerns, marcados por suas belas paisagens, por seus ambientes de pequenos espaços e pelos tons bege das suas ruas empoeiradas.  Ele joga com os elementos tradicionais dos gêneros, para produzir uma discussão moral muito atual, nada esquemática, nem maniqueísta.




Um roteiro inteligente costura os elementos da saga dos irmãos texanos Toby (Chris Pine) e Tannar (Ben Foster), juntando grana de pequenos roubos a bancos, com bons propósitos, e o inevitável confronto com a lei, que favorece os poderosos, e que é aplicada pelo delegado Marcus (Jeff Bridges) e seu parceiro indígena Alberto (Gil Birmingham).


O filme dedica um bom espaço aos relacionamentos e ao clima que produz as ações e desenvolve sua narrativa com grande eficiência.  Um filme estadounidense até a medula, que revisita a história, em busca de um produto tradicional renovado, curiosamente foi dirigido por um cineasta britânico, David Mackenzie, com base em roteiro de Taylor Sheridan, também roteirista de “Sicário, Terra de Ninguém”, de 2015.  Um elenco masculino muito afiado, capitaneado pelo veterano Jeff Bridges, garante um bom espetáculo. “ A Qualquer Custo” está indicado ao Oscar 2017 em quatro categorias, incluindo a de melhor filme.



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