Antonio Carlos Egypto
O
COMANDANTE E A CEGONHA (Il Comandante e
la Cicogna). Suíça/Itália, 2012.
Direção: Silvio Soldini. Com Valerio
Mastandrea, Alba Rohrwacher, Giuseppe Battiston, Claudia Gerini, Luca
Zingaretti. 108 min.
Do
alto da praça que o homenageia, o comandante Giuseppe Garibaldi (1807-1882), na
forma de estátua equestre, observa o que se passa e pensa sobre a Itália de
hoje, a perda de valores, se questiona sobre o patriotismo e se valeu a pena a
unificação do país. Outras estátuas
importantes, como as de Verdi e Leopardi, também vão entrar na história.
Um
garoto de 13 anos faz perguntas desconcertantes e vive arrumando cabeças de
peixe e rãs para oferecer a uma cegonha, que é sua amiga. Ou, seria melhor dizer, sua propriedade? O fato é que ele fala com ela, a chama por
meio de um apito e ela obedece.
Acostumado a contar sempre com ela, um belo dia, quando a cegonha some
em direção à Suíça, ele terá de ir atrás dela.
Pelo
que contei até aqui, já dá para entender o título do filme “O Comandante e a
Cegonha”. E por que a cegonha vai em
direção à Suíça? É curioso que um cineasta como Silvio Soldini, que nasceu em
Milão e é reconhecido por filmes marcadamente italianos, seja uma das atrações
da Mostra de Cinema Suíço que acontece em São Paulo. A história desse filme, como se vê, é
igualmente italiana, já a produção é também suíça. Daí o destino da cegonha. Aliás, Soldini tem dupla cidadania, é suíço
também.
“O
Comandante e a Cegonha” é uma comédia surrealista que tem vários outros
personagens e situações estranhos. Mas
se vale do surreal para refletir o real.
No caso, a crise europeia e, sobretudo, uma decadência que coloca a
Itália virtualmente fora do pretendido Primeiro Mundo a que ela pensava
pertencer.
O
que parece estranho acaba sendo, na verdade, muito conhecido. Trata-se de fraudes, falcatruas, jogadas
suspeitas, corrupção. Além disso,
virações que lembram o jeitinho brasileiro de acomodar as coisas.
Há
a adolescente, cujo vídeo postado on line
mostra uma felação com o namorado. O
pai, mecânico, tem de lidar com isso, com o filho e sua cegonha e com um
advogado que, em troca de livrar a jovem do pesadelo na Internet, quer que ele
assine a compra de um imóvel em seu lugar.
Há
também uma artista que não recebeu pelo trabalho realizado e vai atrás do mesmo
advogado, já que não consegue pagar o aluguel.
O dono da casa que ela aluga não trabalha e é amigo do menino e,
portanto, também da cegonha. Como se vê, no meio de toda essa parafernália de
personagens improváveis, há uma realidade bem concreta que está sendo exposta.
Silvio
Soldini, como de costume, realiza um bom trabalho nessa comédia um tanto
bizarra, que flui bem e tem criatividade e originalidade. Tem também um elenco muito adequado, tanto
pelos tipos físicos, quanto pelas interpretações. Não espere rir às gargalhadas, não é o
caso. Essa é uma daquelas comédias em
que os sorrisos e as risadas trazem consigo a necessidade de pensar sobre um
assunto, que é sério. Diverte, é claro,
mas vai além disso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário