Antonio Carlos Egypto
MOTEL
DESTINO. Brasil, 2024. Direção: Karim Aïnouz. Elenco: Iago Xavier, Nataly Rocha, Fábio
Assunção. 115 min.
O
diretor Karim Aïnouz, brasileiro, cearense, é um dos nossos mais importantes
cineastas, com reconhecimento internacional e uma obra sólida e farta. Basta citar alguns de seus filmes para
evidenciar isso: “Madame Satã”, 2000; “Praia do Futuro, 2016; “A Vida
Invisível”, 2019; “Marinheiro das Montanhas”, 2023. Outro de seus filmes é “O Céu de Suely”, de
2006, realizado inteiramente no Ceará.
Pois, após 16 anos de carreira internacional, Karim volta a filmar no
seu Ceará natal “Motel Destino”. E se
diz feliz com isso.
Segundo
suas palavras: “Depois de tantos anos longe do Brasil, ainda mais tempo longe
do Ceará, colocar esse filme no mundo é, para mim, uma felicidade imensa. Os últimos anos foram muito difíceis, em que
sobrevivemos a uma pandemia e a um governo fascita. ‘Motel Destino’ é uma ode ao desejo como
motor da vida”. Colocar o filme no
mundo, como ele diz, não é exagero. O
filme concorreu em Cannes e conta com coprodução da Alemanha, da França e do
Reino Unido.
O
curioso é que a volta à terra natal, embora explore também a beleza praiana e
os espaços abertos, concentra-se num espaço fechado: o do motel de beira de
estrada do litoral cearense. Aqui se
desenvolvem os jogos perigosos de desejo, poder e violência, que incluem o casal
de proprietários/administradores do local.
Ele, Elias (Fábio Assunção), ela, Dyana (Nataly Rocha). Nesse universo fechado eles vivem um
casamento tóxico, em que Dyana está presa numa situação abusiva.
Tudo
começa a mudar quando um jovem da periferia, perseguido pela polícia, aparece e
se esconde, trabalhando por lá. Heraldo
(Iago Xavier), como uma espécie de sedutor/desagregador, similar ao de
“Teorema”, de Pier Paolo Pasolini. E
toda uma trama policial e de suspense se estabelece. O filme é, na realidade, um thriller erótico. Se as cenas eróticas
se sobressaem, o confinamento no motel nos remete ao lockdown dos tempos recentes da pandemia de Covid19.
A
concentração das ações no espaço fechado do motel potencializa o drama e as
reações dos personagens da trama. É um
filme que tem ritmo, ação, e que flui muito bem nesse contexto
claustrofóbico e de prazer. O que é um grande mérito
do diretor e também do elenco. A
concentração do espaço parece tê-los ajudado a se aprofundar em seus
personagens e no convívio entre eles.
Destaque
para o jovem cearense Iago Xavier, que atua como veterano, com muita força em
cena. Do mesmo modo, a atriz, cearense
também, Nataly Rocha tem grande presença e força dramática na narrativa. Quem aparentemente encontraria mais
dificuldade nessa história cearense seria Fábio Assunção, ator muito conhecido
no Sudeste. Ele se complicou mesmo com algumas expressões do linguajar local,
segundo seu próprio depoimento, mas está perfeitamente integrado em seu papel e
no relacionamento com seus parceiros de cena, também com ótima atuação.
As
vantagens de uma filmagem restrita a um local assim determinado são a
otimização do tempo, a redução do custo e a abertura de muitas possibilidades
de situações. Um filme coral num motel
pode ser uma boa ideia ou, possivelmente, uma ampliação ou continuidade dessa
história. Não estou propondo nenhum
Motel Destino 2, até porque não sou entusiasta dessas ondas comerciais de
continuação. Mas nas mãos de Karim Aïnouz,
quem sabe, pudesse sair muita coisa boa. Estou-me referindo a isso porque o
próprio diretor expressou a satisfação que sentiu e a vontade de, talvez, fazer
mais, já que encontrou um caminho muito favorável. Veremos, então.
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