terça-feira, 25 de junho de 2024

AINDA TEMOS O AMANHÃ

                           

Antonio Carlos Egypto




AINDA TEMOS O AMANHÃ (C’è ancora domani).  Itália, 2023.  Direção: Paola Cortellesi.  Elenco: Paola Cortellesi, Valerio Mastandrea, Romana Maggiore Romano, Emanuela Fanelli, Giorgio Colangeli, Francesco Centorame.  118 min.

 

“Ainda Temos o Amanhã” é um filme autoral.  Sua diretora, corroteirista e atriz principal é Paola Cortellesi.  É o seu primeiro longa como diretora, mas com talento de veterana.  O filme é muito bem concebido e realizado.  Para começar, pela feliz escolha da imagem em preto e branco que, aliada à caracterização de época, bastante cuidadosa e competente, nos remete à Roma do final dos anos 1940 e início dos 1950. 

 

O roteiro, muito bem construído, produziu uma trama envolvente, com qualidade dramática, leveza e humor, muito bem contextualizados.

 

A sociedade italiana, seu machismo atávico e o patriarcado opressor estão bem mostrados, fazendo um retrato nítido da estrutura social da época, que remete não só à Itália, mas a muitas outras partes do globo, cujos efeitos são claramente sentidos até os dias atuais.

 


“Ainda Temos o Amanhã” buscou e alcançou uma comunicação popular, comprovada pelo grande sucesso de bilheteria na Itália, que levou 5 milhões de espectadores aos cinemas, rendeu 24 milhões de euros e a pré-indicação para representar a Itália no Oscar de filme internacional.

 

É difícil encontrar um produto artístico que consiga aliar a profundidade intelectual a um bom apelo popular.  Ou seja, transmitir bem questões importantes numa linguagem de fácil assimilação popular.  Paola Cortellesi conseguiu isso e, a meu ver, criou um dos mais interessantes filmes feministas da história do cinema.

 

Um feminismo que se manifesta na vivência individual das mulheres que, mesmo com suas diferentes condições, tem um substrato comum, marcado pela organização social, pela coletividade.  Assim sendo, as soluções também têm de ser coletivas.  O filme faz essa passagem brilhantemente.  Tem um final emocionante, que é bom não comentar, mas que conquista a plateia.  Pela forma como se desenrola e pela forma surpreendente como acontece.  A partir de um elemento misterioso que se insere na trama.  É um filme que recomendo vivamente que assistam.

 


Ele faz parte e é o filme de abertura da 11ª. edição da 8 1/2 Festa do Cinema Italiano, que ocorre de 27 de junho a 3 de julho de 2024.  Em São Paulo, no Espaço de Cinema Augusta, no cine Reag Belas Artes, no cine Satyros Bijou e no Cinesystem Frei Caneca.  Mas o festival alcança 22 cidades brasileiras, entre elas, praticamente, todas as capitais de Estados.  A programação, os locais de exibição e informação sobre os filmes poderão ser consultados no site www.festadocinemaitaliano.com.br  Além de “Ainda Temos o Amanhã”, gostaria de recomendar que conferissem os filmes de Daniele Lucheti, que estará no Brasil participando do evento, com “Segredos”, destacar o novo trabalho de Marco Bellochio, com “Sequestro do Papa”, e “A Imensidão”, de Emanuele Crialese, cineastas talentosos e já consagrados.  Mas há muito mais para ver, além desses.



 

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