Antonio Carlos Egypto
A
ORDEM DO TEMPO (L’Ordine del Tempo). Itália, 2023.
Direção: Liliana Cavani. Roteiro:
Liliana Cavani e Carlo Rovelli. Elenco:
Alessandro Gassman, Claudia Gerini, Fabrizio Rongione, Angela Molina, Richard
Sammel. 113 min.
No
momento em que vivemos às voltas com as emergências climáticas e suas
consequências terríveis para a humanidade, como degelo polar, aquecimento dos
oceanos, submersão de cidades inteiras, secas prolongadas, calor insuportável,
convivência com novos vírus, doenças e pandemias, a ideia de um final dos
tempos parece algo admissível e, talvez, até próximo.
Por
isso não é de estranhar que “A Ordem do Tempo”, trabalho de Carlo Rovelli, um
físico teórico e especialista no estudo da gravidade quântica, que apresenta
sua interpretação dos mistérios do tempo, tenha inspirado o novo trabalho da
veterana diretora italiana Liliana Cavani, em atividade, veja só, aos 91
anos. Segundo ela, “Toda a nossa Física,
e a ciência em geral, trata de como as coisas se desenvolvem conforme a ordem
do tempo (...) como humanos e parte do Universo, embarcamos na jornada da vida
sem termos escolhido fazê-lo.
Simplesmente acontece, como tudo acontece segundo a ordem do
tempo”. E foi pela ótica de um final
dos tempos que ela gestou o seu filme.
Aqui,
o risco de um fim para toda a humanidade está focado na entrada ocasional no
sistema solar do imenso asteroide Anaconda, a uma velocidade inesperada, em
vias de chocar-se com o planeta Terra e destruí-lo. Algo semelhante teria acontecido quando do
desaparecimento dos dinossauros, há milhões de anos.
Quem
vai viver a angústia dessa descoberta funesta é um grupo de amigos que se
reúnem no aniversário de 50 anos de uma mulher, numa localidade de praia, numa
ampla e bela casa, cercada pela natureza do lugar. São pessoas de educação refinada, formações
variadas e sucesso econômico na vida. Classe alta ou média alta.
Num
mundo onde a velocidade das informações é instantânea, estranha-se que esse
seleto grupo seja portador de uma notícia como essa, que não está divulgada e
esclarecida a contento. Um dos convivas,
por sua especialidade, tem acesso a essas informações que, decide-se em algum
foro superior, não serão esclarecidas à população convenientemente. Até porque teria pegado a todos os
especialistas de surpresa e o tempo que restaria para esse impacto seria apenas
de algumas horas.
Pois
bem, diante disso, as pessoas vão ter de encarar algumas coisas que estavam
escondidas, camufladas, negadas, adaptadas sem a devida revisão crítica. Enfim, diante do fim do mundo e quando nos
resta pouquíssimo tempo, é agora ou nunca.
Seria
de se esperar, ainda mais num filme italiano, doses de emocionalidade e
descontrole muito grandes. Mas, não. Nesse grupo, mesmo com o fim do mundo, tudo se
faz com contenção. Apelando para
comprimidos, bebidas, um choro nervoso, um abandono do local, conversas francas
que nunca existiram. E até um breve momento de descontração com música e dança. Mas não mais do que isso. Consequentemente, o filme fica morno, sem a tensão
que um Lars von Trier já colocou em situação semelhante, nem a densidade de um
Ingmar Bergman.
Mas
Liliana Cavani é uma diretora importante da fase áurea do cinema italiano e com
a longevidade produtiva que está demonstrando tem de merecer nossa atenção. Claro que o filme é bem realizado, bem
dirigido, com bons atores e atrizes.
Mas, mesmo assim, não chega a empolgar.
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