sábado, 15 de junho de 2024

A ORDEM DO TEMPO

 

Antonio Carlos Egypto

 



A ORDEM DO TEMPO (L’Ordine del Tempo).  Itália, 2023.  Direção: Liliana Cavani.  Roteiro: Liliana Cavani e Carlo Rovelli.  Elenco: Alessandro Gassman, Claudia Gerini, Fabrizio Rongione, Angela Molina, Richard Sammel.  113 min.

 

No momento em que vivemos às voltas com as emergências climáticas e suas consequências terríveis para a humanidade, como degelo polar, aquecimento dos oceanos, submersão de cidades inteiras, secas prolongadas, calor insuportável, convivência com novos vírus, doenças e pandemias, a ideia de um final dos tempos parece algo admissível e, talvez, até próximo.

 

Por isso não é de estranhar que “A Ordem do Tempo”, trabalho de Carlo Rovelli, um físico teórico e especialista no estudo da gravidade quântica, que apresenta sua interpretação dos mistérios do tempo, tenha inspirado o novo trabalho da veterana diretora italiana Liliana Cavani, em atividade, veja só, aos 91 anos.  Segundo ela, “Toda a nossa Física, e a ciência em geral, trata de como as coisas se desenvolvem conforme a ordem do tempo (...) como humanos e parte do Universo, embarcamos na jornada da vida sem termos escolhido fazê-lo.  Simplesmente acontece, como tudo acontece segundo a ordem do tempo”.   E foi pela ótica de um final dos tempos que ela gestou o seu filme.

 

Aqui, o risco de um fim para toda a humanidade está focado na entrada ocasional no sistema solar do imenso asteroide Anaconda, a uma velocidade inesperada, em vias de chocar-se com o planeta Terra e destruí-lo.  Algo semelhante teria acontecido quando do desaparecimento dos dinossauros, há milhões de anos.

 

Quem vai viver a angústia dessa descoberta funesta é um grupo de amigos que se reúnem no aniversário de 50 anos de uma mulher, numa localidade de praia, numa ampla e bela casa, cercada pela natureza do lugar.  São pessoas de educação refinada, formações variadas e sucesso econômico na vida. Classe alta ou média alta.

 


Num mundo onde a velocidade das informações é instantânea, estranha-se que esse seleto grupo seja portador de uma notícia como essa, que não está divulgada e esclarecida a contento.  Um dos convivas, por sua especialidade, tem acesso a essas informações que, decide-se em algum foro superior, não serão esclarecidas à população convenientemente.  Até porque teria pegado a todos os especialistas de surpresa e o tempo que restaria para esse impacto seria apenas de algumas horas.

 

Pois bem, diante disso, as pessoas vão ter de encarar algumas coisas que estavam escondidas, camufladas, negadas, adaptadas sem a devida revisão crítica.  Enfim, diante do fim do mundo e quando nos resta pouquíssimo tempo, é agora ou nunca.

 

Seria de se esperar, ainda mais num filme italiano, doses de emocionalidade e descontrole muito grandes.  Mas, não.  Nesse grupo, mesmo com o fim do mundo, tudo se faz com contenção.  Apelando para comprimidos, bebidas, um choro nervoso, um abandono do local, conversas francas que nunca existiram. E até um breve momento de descontração com música e dança.  Mas não mais do que isso.  Consequentemente, o filme fica morno, sem a tensão que um Lars von Trier já colocou em situação semelhante, nem a densidade de um Ingmar Bergman. 

 

Mas Liliana Cavani é uma diretora importante da fase áurea do cinema italiano e com a longevidade produtiva que está demonstrando tem de merecer nossa atenção.  Claro que o filme é bem realizado, bem dirigido, com bons atores e atrizes.  Mas, mesmo assim, não chega a empolgar.



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