Antonio Carlos Egypto
NADA
SERÁ COMO ANTES – A Música do Clube da Esquina.
Brasil, 2023. Direção: Ana Rieper.
Documentário. 79 min.
Quem
lê meus textos, aqui no Cinema com
Recheio, sabe que eu valorizo esse ramo do cinema brasileiro, que se
dedica, por meio de documentário ou de ficção, à nossa melhor música popular (e
à medíocre também). Nossa música sempre
teve muita qualidade para ser reconhecida mundialmente, isso aconteceu e
acontece. É um dos maiores patrimônios
do nosso país.
O
documentário “Nada Será Como Antes” destaca um desses momentos luminosos da
nossa MPB, em que um grande número de músicos, compositores, letristas, produziu
um trabalho inovador e de altíssima qualidade, a partir de Minas Gerais. Na origem, no cruzamento entre as ruas
Paraisópolis e Divinópolis, em Belo Horizonte, num bar onde se reuniam, entre
outros, Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Wagner Tiso, Toninho
Horta. Daí surgiu um movimento musical
que resultaria em um disco histórico, reconhecido como um dos melhores já
realizados no Brasil: o álbum duplo, em LP, Clube
da Esquina, de 1972.
Participam
do disco os nomes citados no poster
do filme, mostrado acima, outros mais e um ilustre ausente, Fernando Brant
(1946-2015), coautor de alguns dos maiores êxitos da carreira de Milton
Nascimento. Todos, os mais e os menos
importantes, têm espaço no filme para falar do seu trabalho e do conjunto,
expondo sua visão daquele histórico momento musical de que participaram.
Clube da Esquina é um
feliz encontro de uma turma que se alimentava de jazz, música erudita, música
afro, rock progressivo, Beatles, cinema e movimento estudantil de resistência à
ditadura militar. Essas influências são
citadas e mostradas pelos integrantes do Clube
da Esquina, hoje senhores já idosos.
E há quem aponte as montanhas mineiras como elemento essencial da
criação musical que se fazia por lá, com altos e baixos, e picos pouco comuns
aos que fazem música ao nível do mar, como o pessoal da Bossa Nova.
Seja
como for, a diretora carioca Ana Rieper soube explorar muito bem em seu filme
essa criatividade mineira, rica em diversidade, mas com um espírito coletivo
admirável. Na base da amizade, se
construíram grandes e variadas parcerias, sessões musicais empolgantes, e cada
um deles preservou sua identidade musical.
O
grupo pôde contar, como divulgador, com um dos maiores cantores que já
apareceram no Brasil: Milton Nascimento, uma voz belíssima, um timbre marcante,
falsetes magníficos e um bom gosto de admirar como compositor. Essencial relembrar tudo isso que,
felizmente, está disponível ao nosso desfrute.
E que nos orgulha.
Este filme marca o retorno da sessão Vitrine Petrobrás, a preços reduzidos, nos cinemas.
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