Antonio Carlos Egypto
FECHAR
OS OLHOS (Cerrar los Ojos).
Espanha, 2023. Direção: Victor
Érice. Elenco: Manolo Solo, Ana Torrent,
José Coronado, Soledad Villamil, Venecia Franco. 165 min.
A # 47
Mostra nos traz um presente: o retorno do grande diretor espanhol Victor Érice
à realização cinematográfica de longas-metragens. Responsável por uma obra prima como “O
Espírito da Colmeia”, de 1973, ele realizou só mais dois longas, “O Sul”, em
1983, e “O Sol do Marmelo”, em 1992.
Desde então, dirigiu curtas e participou de episódios em filmes com
outros cineastas. E só agora, 30 anos
depois, realiza um novo longa: FECHAR OS OLHOS. E é um trabalho magnífico.
Uma
trama muito bem construída do início ao fim, em que os diversos elementos vão
sendo revelados pouco a pouco, sem pressa, envolvendo emoções e sublinhando o
mistério. O desaparecimento de um ator
em pleno período de gravações de um filme, cujo corpo nunca foi encontrado e
que se supõe morto num acidente no mar.
Até que novos elementos levantam dúvidas quanto a seu paradeiro. O elemento decisivo dessa evolução narrativa
será o próprio cinema, as últimas cenas gravadas do ator Julio Arenas (José
Coronado) naquele filme.
Essa é
apenas uma das questões de FECHAR OS OLHOS. O envelhecimento, a perda da memória, da
consciência e da própria identidade, a importância do nome na vida de alguém,
são aspectos integrantes dessa trama. O
que resta a um ser humano quando ele perde sua história? Quando ele não se
reconhece nem aos seus familiares, amigos, cônjuges? Que sentido tem o desenvolvimento de
habilidades, que parecem distantes da própria pessoa? É possível ser feliz nesse limbo? Claro que momentos felizes são possíveis, mas
afinal o que é a felicidade para o indivíduo? E ainda: é possível reconstruir
uma vida que se perdeu? Até que ponto?
Num
tempo em que o envelhecimento alcança novos níveis, as pessoas vivem muito
mais, a questão da memória, da história e da identidade passa a ocupar papel
central na vida de quem sobrevive ao passar dos anos. E, naturalmente, dos que com eles
convivem. Como se dá o vínculo quando
essas perdas acontecem?
É possível pensar em tudo isso enquanto o
filme flui na tela. A sutileza, os
tempos, o modo cuidadoso de avançar na história num estilo clássico, onde tudo
se encaixa, favorecem a reflexão do público.
O excelente elenco do filme em desempenhos muito convincentes é mais uma
prova da capacidade e do talento do diretor.
Ver
esse cineasta de 83 anos em pleno domínio do seu métier, pensando os
tempos atuais em profundidade não é pouca coisa. Um dos melhores filmes da # 47 Mostra, sem
dúvida.
@mostrasp
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