Antonio Carlos Egypto
NOITES
ALIENÍGENAS. Brasil, 2022. Direção:
Sérgio Carvalho. Elenco: Gabriel Knoxx,
Adanilo Reis, Gleici Damasceno, Chico Diaz, Joana Gatis, Kika Sena. 91 min.
O
filme brasileiro “Noites Alienígenas” chega aos cinemas com atrativos inegáveis
e já bem vitorioso. É o primeiro
longa-metragem produzido no Acre, que chega ao circuito cinematográfico. E vem
carregado de prêmios. Obteve no último
Festival de Gramado os prêmios de melhor filme, melhor ator para Gabriel Knoxx,
melhor atriz para Joana Gatis, melhor ator coadjuvante para Chico Diaz, menção
honrosa para o ator Adanilo Reis e prêmio do Júri da Crítica.
A
história, situada em Rio Branco, a capital do Acre, é uma adaptação de um livro
escrito pelo diretor do filme, Sérgio Carvalho.
Segundo ele próprio, a narrativa privilegiava a questão da dependência
de drogas e suas terríveis consequências na vida, sobretudo, dos jovens. Quando foi adaptá-lo ao cinema, muitos anos
depois, a situação havia alcançado um patamar muito mais preocupante. O avanço do crime organizado e do tráfico de
drogas na região amazônica estava produzindo uma devastadora realidade: o
grande aumento de mortes de crianças e jovens na cidade de Rio Branco. O ambiente urbano se assemelhando à situação
das periferias das grandes cidades do sul e sudeste. O filme, com roteiro de Camilo Cavalcante,
Rodolfo Milani e Sérgio Carvalho, ganhou uma dimensão social mais grave.
Os
personagens, marcados por esse contexto de violência, circulam num ambiente que
se deteriora e põe em questão não só a floresta como as culturas regionais
originárias. Mas a ancestralidade resiste
à contemporaneidade do domínio dessas facções criminosas, que triplicou o assassinato
de crianças e jovens no estado do Acre.
Os
elementos da floresta permeiam toda a narrativa, com símbolos como a grande
cobra, que abre o filme. E elementos
fantásticos entram na história, como desejo, expectativa, mistério. A nave espacial, que é desenhada com
requintes artísticos, na casa do veterano traficante é marcante e atraente,
como costumam ser os apelos dos extraterrestres. Enquanto a vida se deteriora, existe uma
floresta que nos circunda e um cosmos a ser compreendido e explorado. Assim, entramos em contato com a realidade do
Acre e com suas mazelas, num contexto artístico, poético, o que é bastante
interessante.
O
diretor Sérgio Carvalho, carioca de nascimento e tendo trabalhado também em São
Paulo, está radicado no Acre há muitos anos e resolveu trabalhar por lá,
colocar o Acre em evidência, no contexto cultural brasileiro. E o fez competentemente.
O elenco premiado que ele formou inclui também figuras fora do Estado, com destaque para o papel do mexicano/brasileiro Chico Diaz, que constrói um traficante humanamente caracterizado, como um comerciante ilegal, para além dos estereótipos de mocinho ou vilão. Os demais personagens também respiram vida real, são gente que vive e pulsa, fazendo suas escolhas em meio a uma realidade complexa. Como a mãe que perde o filho, os meninos que buscam a família mafiosa do tráfico, querendo trabalho e dinheiro, enquanto amadurecem para uma vida breve. É um trabalho que merece ser conhecido e discutido pela realidade que nos apresenta, pela criatividade e pela qualidade artística que tem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário