Antonio Carlos Egypto
DRIVE
MY CAR (Doraibu mai ka). Japão, 2022.
Direção: Ryusuke Hamaguchi. Elenco: Hidetoshi Nishijima, Reika Kirishima,
Toko Miura, Sonia Yuan, Masaki Okada. 177
min.
Em “Drive My Car”, conforme o título
inglês já sugere, o carro tem um papel muito relevante. Trata-se de um luxuoso Saab 900 vermelho, que
o ator e diretor teatral Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima) dirige com prazer
em longos percursos, enquanto ouve, memoriza e contracena com as falas de
espetáculos teatrais, gravadas por sua mulher Oto (Reika Kirishima), roteirista,
em especial, “Tio Vânia”, do escritor russo Anton Tchekhov (1860-1904).
Dois anos depois de uma tragédia
pessoal com Oto, que abalou Kafuku, ele assume dirigir uma encenação em
Hiroshima, que apresenta uma exigência que o surpreende. Ele tem de aceitar que uma motorista dirija
seu carro nos deslocamentos, durante esse trabalho, que durará meses. Aí entra em cena Misaki (Toko Miura), com
quem Kafuku desenvolverá uma relação, que mexerá com o passado e o presente de
ambos.
“Drive My Car” é um drama psicológico
denso e profundo, em que os diálogos e a montagem de “Tio Vânia” interagem o
tempo todo com os personagens, desafiando-os a encarar tabus, negações, medos,
vergonhas, que possibilitarão ou não que suas vidas lhes tragam momentos de
felicidade e que a existência tenha valido a pena ser vivida.
É um filme longo, tem três horas de
duração, o que nos permite refletir sobre a vida, como lidamos com as diversas
situações que se nos apresentam e sobre as ilusões e as barreiras que nós
mesmos criamos para impedir nossa felicidade.
Ao enfrentar a complexidade das
reações e sentimentos, a narrativa de Ryusuke Hamaguchi, adaptando um conto de
Harumki Murakami, abrange dimensões amplas dos comportamentos humanos.
Por sinal, tanto o Bafta britânico
quanto o Oscar estadunidense indicaram o filme de Hamaguchi para prêmios de
roteiro adaptado. Ambos os prêmios
também o indicaram como melhor diretor.
E “Drive My Car” como melhor filme internacional. No caso do Oscar, ele também está indicado
como melhor filme. Ou seja, um
reconhecimento e tanto para essa produção japonesa, que, de fato, alcança um
nível de qualidade altíssimo.
O diretor Ryusuke Hamaguchi já se
destaca hoje como um grande cineasta.
Aos 43 anos de idade, já nos deu filmes extraordinários, como “A Roda do
Destino”, de 2021, que esteve em cartaz recentemente nos nossos cinemas, e
“Asako I & II”, de 2018. Ambos
causaram ótima impressão na crítica, combinando simplicidade e eficiência
narrativa com atuações admiráveis dos elencos.
Em “Drive My Car”, não é
diferente. Mas aqui ele desenrolou e
recheou a história, estendendo o tempo.
Mostrou que é capaz de explorar tanto a síntese narrativa, nos filmes
anteriores, como a evolução lenta e cuidadosa dos personagens, em “Drive My
Car”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário