terça-feira, 15 de março de 2022

DRIVE MY CAR

Antonio Carlos Egypto

 

 



DRIVE MY CAR (Doraibu mai ka).  Japão, 2022.  Direção: Ryusuke Hamaguchi.  Elenco: Hidetoshi Nishijima, Reika Kirishima, Toko Miura, Sonia Yuan, Masaki Okada.  177 min.

 

Em “Drive My Car”, conforme o título inglês já sugere, o carro tem um papel muito relevante.  Trata-se de um luxuoso Saab 900 vermelho, que o ator e diretor teatral Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima) dirige com prazer em longos percursos, enquanto ouve, memoriza e contracena com as falas de espetáculos teatrais, gravadas por sua mulher Oto (Reika Kirishima), roteirista, em especial, “Tio Vânia”, do escritor russo Anton Tchekhov (1860-1904).

 

Dois anos depois de uma tragédia pessoal com Oto, que abalou Kafuku, ele assume dirigir uma encenação em Hiroshima, que apresenta uma exigência que o surpreende.  Ele tem de aceitar que uma motorista dirija seu carro nos deslocamentos, durante esse trabalho, que durará meses.  Aí entra em cena Misaki (Toko Miura), com quem Kafuku desenvolverá uma relação, que mexerá com o passado e o presente de ambos.

 

“Drive My Car” é um drama psicológico denso e profundo, em que os diálogos e a montagem de “Tio Vânia” interagem o tempo todo com os personagens, desafiando-os a encarar tabus, negações, medos, vergonhas, que possibilitarão ou não que suas vidas lhes tragam momentos de felicidade e que a existência tenha valido a pena ser vivida.

 

É um filme longo, tem três horas de duração, o que nos permite refletir sobre a vida, como lidamos com as diversas situações que se nos apresentam e sobre as ilusões e as barreiras que nós mesmos criamos para impedir nossa felicidade.

 

Ao enfrentar a complexidade das reações e sentimentos, a narrativa de Ryusuke Hamaguchi, adaptando um conto de Harumki Murakami, abrange dimensões amplas dos comportamentos humanos.


 



Por sinal, tanto o Bafta britânico quanto o Oscar estadunidense indicaram o filme de Hamaguchi para prêmios de roteiro adaptado.  Ambos os prêmios também o indicaram como melhor diretor.  E “Drive My Car” como melhor filme internacional.  No caso do Oscar, ele também está indicado como melhor filme.  Ou seja, um reconhecimento e tanto para essa produção japonesa, que, de fato, alcança um nível de qualidade altíssimo.

 

O diretor Ryusuke Hamaguchi já se destaca hoje como um grande cineasta.  Aos 43 anos de idade, já nos deu filmes extraordinários, como “A Roda do Destino”, de 2021, que esteve em cartaz recentemente nos nossos cinemas, e “Asako I & II”, de 2018.  Ambos causaram ótima impressão na crítica, combinando simplicidade e eficiência narrativa com atuações admiráveis dos elencos. 

 

Em “Drive My Car”, não é diferente.  Mas aqui ele desenrolou e recheou a história, estendendo o tempo.  Mostrou que é capaz de explorar tanto a síntese narrativa, nos filmes anteriores, como a evolução lenta e cuidadosa dos personagens, em “Drive My Car”.



Nenhum comentário:

Postar um comentário