quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

AZOR

Antonio Carlos Egypto

 

 



AZOR (Azor), Suíça, Argentina, 2021.  Direção e roteiro: Andreas Fontana.  Elenco: Fabrízio Rongione, Elli Medeiros, Pablo Torres Nilson, Alexandre Trocki, Stéphanie Cléau.  100 min.

 

“Azor” é um filme estranho de se ver.  Porque nada do que acontece fica claro em momento nenhum.  Exceto no final, talvez.  Porém, como se passa em algum momento dos anos 1980 da ditadura militar argentina, sabemos o que se passava por lá: perseguições, prisões, tortura, desaparecimentos, sequestro de crianças e muito mais.  Vai daí que se alguém desapareceu misteriosamente, ou alguém foi preso ou há uma blitz policial na rua, tudo isso tem um sentido.  Aparentemente, não para o mundo dos endinheirados que passam de festa em festa, passeios, corridas na Hípica, jantares, encontros em que se fala de amenidades, superficialidades.

 

Isso é o filme.  De forma lenta, vamos vendo a vida dessa turma, para quem nada estaria acontecendo, aparentemente.  De qualquer modo, nada estaria acontecendo com eles.  Será? 

 

Bem, um banqueiro suíço, Yvan De Wiel (Fabrízio Rongione), vai à Argentina substituir seu sócio, René Keys, que sumiu sem deixar rastro e de quem se fala de forma cifrada ou dissimulada.  O que se passou?

 




Aqui e ali, as conversas fazem referência a algo do mundo lá de fora, de forma muito indireta ou apenas sugerida.  E a carnificina corria solta, disso sabemos os espectadores. Bem, mas pouco a pouco vai se tornando clara a ligação umbilical entre o regime militar e os bancos suíços.  A ditadura é um negócio, um bom negócio, para o grupo dominante na Argentina e pelo mundo, onde os suíços têm grande relevância financeira.

 

Quando o dinheiro manda, melhor praticar o azor, ou seja, o nosso famoso Cale-se! ou Preste atenção no que diz.  Curiosamente, quando nada está sendo dito.  Mas, de repente, algo pode sair do script. 

 

É bem interessante a tática narrativa do diretor suíço, estreante em longas, Andreas Fontana (também roteirista com Mariano Llinás).  A realidade só se mostra de relance, num descuido, numa palavra indevida, num lapso.  De certo modo, o medo e o suspense se agudizam.  É um mérito, inegável.  Mas não torna a fluência do filme melhor ou mais eficiente.

 

O andar lento, misterioso e distante do que de fato acontece, incomoda, nos deixa aflitos.  Quem acompanhou os fatos da época sabe o que está por trás.  Quem não souber da história recente argentina, pelo mundo, vai boiar.  Mas um tanto de tédio vai atingir tanto uns quanto outros.  Ou será que era eu que estava cansado, ou impaciente, quando vi o filme?

 

 

 

4 comentários:

  1. Egypto, eu não sei o que aconteceu com vc...rsrsrs...mas em mim vc despertou o desejo de ver o filme. Seus comentários despertam a nossa curiosidade.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. E você não foi a primeira pessoa a me dizer isso. Então ótimo. Vai conferir e me conta o que achou.

      Excluir
  2. Caro Egypto
    Suas revelações fílmicas são sempre importantes. Esta,especialmente,me estimula assistir e me suscita reflexões e temores sobre o momento que ora vivemos. Obrigado !

    ResponderExcluir
  3. A temática do filme é importante, sem dúvida.E a forma como foi concebido tem sua originalidade.Ainda assim, não é um filme que envolva ou entusiasme.É um tanto cifrado e arrastado.Mas vá ver, com atenção.

    ResponderExcluir