Antonio Carlos Egypto
Entre os filmes da chamada Perspectiva
Internacional da 44ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, este ano on line, www.mostra.org,
já posso destacar KUBRICK POR KUBRICK, um documentário que, com certeza, vai deliciar
os cinéfilos em geral e os admiradores da obra do cineasta Stanley Kubrick
(1928-1999) em particular.
KUBRICK |
Aqui, a obra de Kubrick é abordada,
filme a filme, de “Medo e Desejo” (1953) a “De Olhos Bem Fechados” (1999). Passando, claro, por “Spartacus” (1960),
Lolita (1962), “Dr. Fantástico” (1964), “2001, Uma Odisseia no Espaço” (1968),
“Laranja Mecânica” (1971), “Barry Lyndon” (1975), “O Iluminado” (1980),
“Nascido Para Matar” (1987) e outros. Um
grande legado, que vai sendo comentado pelo próprio diretor, em diferentes
entrevistas ao crítico francês Michel Ciment, um dos poucos que teve esse
acesso privilegiado a um artista que detestava dar declarações e entrevistas
sobre seus filmes. Portanto, um material
raro. Complementado pelo acervo da
família, com comentários de quem trabalhou com ele, como intérprete, técnico,
fotógrafo, músico, etc. Permite que se faça uma radiografia eficiente do
trabalho e da busca desse criador em dialogar com aquilo que o mobilizava diante
do mundo, a partir das obras literárias que ele apreciava e levava às
telas. De uma perspectiva autoral muito
evidente e com uma capacidade de inovar nos mais diversos gêneros, do melodrama
ao filme de guerra, da ficção científica ao terror, do filme de época ao
futurista. Um belo trabalho do diretor francês
Gregory Monro, condensado em 73 minutos muito bem aproveitados.
COZINHAR,
F*DER, MATAR, da
República Tcheca, dirigido por Mira Fornay, é uma provocação interessante. Começa fazendo relações de uma coisa que leva
a outra, sem ter nada que ver uma com a outra.
E vai por essa toada surreal o tempo todo, experimentando diferentes
versões de uma situação que tem por base o desencontro no casamento. O próprio protagonista transita entre os
gêneros. Muitas inversões e revisões
acompanham uma narrativa que não chega a ser caótica, porém é confusa. Mas também, divertida, ao longo de seus 116
minutos.
Entre os filmes de Novos Diretores,
realizando seu primeiro ou segundo longa, dá para indicar LUA VERMELHA, da Espanha, de Lois Patiño, de narrativa bastante
lenta e rarefeita, ao se situar numa vila da costa da Galícia, parada no
tempo. Aqui o mar é o o monstro, Rúbio,
o marinheiro desaparecido, um fantasma, onipresente nas histórias que envolvem
sangue, o que é incorporado pela lua vermelha.
Ou seja, cinema fantástico, com toques sobrenaturais, em alto grau. O
clima é de poesia e de contemplação. O principal mérito do filme é a beleza
plástica da fotografia. Que pode se
perder um pouco, na tela do computador.
84 minutos.
LUA VERMELHA |
Um outro trabalho interessante vem da
Índia, dirigido por Balaji Vembu Chelli, O
TREMOR. Em econômicos 71 minutos,
conta a história de um fotojornalista jovem que, ao receber a missão de cobrir
um terremoto numa pequena vila distante, vê suas chances de se destacar na
profissão. Acompanhamos sua longa viagem
de carro por belas locações de natureza, que já valem a nossa atenção, enquanto
ele procura o terremoto que parece não querer se mostrar. Ao contrário do que se vê muito na produção
de Bollywood, um filme simples, discreto, sem música ou dança, nem roupas
extravagantes. Modesto, mas legal.
O documentário 17 QUADRAS, estadunidense, de Davy Rothbart, retrata o que acontece
a uma família negra, vivendo numa região perigosa de Washington, D.C., que se
situa a 17 quadras do Capitólio, em que um assalto resulta na morte de um jovem
promissor, aos 19 anos. Ele filmava cenas familiares e a realidade nada fácil
da pobreza e do preconceito. Sua morte
muda o rumo de toda a família. Mas as
gravações prosseguem ao longo de muitos anos, o que permite entender a saga
familiar por gerações. Essa realidade
particular não deixa de ser representativa de uma nação em crise, como revelam
os problemas raciais atuais nos Estados Unidos.
É mais um trabalho de diretor novo, que vale conferir. 95 minutos.
@mostrasp
Muito bom!!!!!
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