terça-feira, 10 de março de 2020

O MELHOR ESTÁ POR VIR

Antonio Carlos Egypto






O MELHOR ESTÁ POR VIR (Le Meilleur Reste à Venir).  França, 2018.  Direção: Mathieu Delaporte e Alexandre De la Patellière.  Com Fabrice Luchini, Patrick Bruel, Zineb Triki, Pascalle Arbillot.  118 min.


“O Melhor Está Por Vir” é uma comédia, uma boa comédia, sobre a amizade e também sobre a morte, ou sobre a expectativa diante dela.

Dois grandes atores sustentam a narrativa muitíssimo bem.  Fabrice Luchini, no papel de Arthur, com seu comportamento mais convencional e certinho, e Patrick Bruel, no papel de César, mais solto e farrista.  Arthur e César são amigos de infância, daqueles que se complementam em suas diferenças.  Um aprende muito com o outro e eles, via negociação, acabam se entendendo e aceitando fazer coisas que um, em princípio, não gostava ou não queria e, o que é melhor, sempre se divertindo com isso.  Enfim, um tem muito a ganhar na companhia do outro e eles sabem, pelo menos intuitivamente, disso.

A graça da história é que, por uma circunstância mal explicada, pelo não dito, pela falta de coragem ou de oportunidade, coisas não se esclarecem.  A consequência é que um fica achando que o outro é que está com uma doença terminal e ambos decidem que há coisas importantes a fazer ou a aproveitar antes que a morte chegue, já que ela deve chegar logo.  Um amigo não abandona o outro nessa hora e, juntos, eles vão viver situações não só engraçadas, mas de grande relevância para a vida de cada um deles.

As sequências são bem construídas, interessantes, curiosas, perfeitamente verossímeis e engraçadas.  Trata-se de um roteiro bem bolado, inteligente e politicamente correto.  Ou seja, sem ser apelativo, vulgar, sem atacar ou ofender a diversidade.  Ao contrário, se divertindo ao defender a diversidade.  Humor pode ser respeitoso e dar margem a reflexão, além de celebrar coisas importantes como, no caso, o valor da amizade.  Tirando sarro das situações, sem babaquice nem pieguismo.  Lidando de forma concreta e realista com a perspectiva da morte, sem ser lúgubre, nem inconsequente.  Embora a inconsequência esteja presente nas maluquices que eles aprontam, pelo jeito, desde crianças.

Um filme muito bom de se ver, sem maiores inovações, mas um entretenimento bem feito e que consegue ultrapassar o limite do mero entretenimento, falando de coisas importantes com leveza.

A dupla de diretores que trabalham juntos já há alguns anos talvez esteja refletindo algo da própria experiência.  Não sei.  Mas parece, pelo fluxo das cenas e pela afetividade que transborda dos personagens.  Claro que com atores tão talentosos como esses tudo flui muito mais fácil.  O fato é que o filme deu certo.  Despretensioso, mas convincente.




EFEMÉRIDES
Os 100 anos de nascimento do mestre italiano do cinema, Federico Fellini, merecem ser amplamente comemorados, como estão fazendo o CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) e o Cinesesc, reexibindo sua obra genial.  Reencontrar-se com (ou conhecer) essa filmografia absolutamente especial e única deve ser mesmo um objetivo de todos, ao longo deste ano.  Seja de que forma for, por meio do DVD, do streaming, VOD.  O que importa é não deixar passar esse momento tão propício dessa efeméride para usufruir do seu talento, sofisticar o desfrutar cinematográfico e também homenageá-lo pela figura importante que foi para todo mundo.

Outros nomes importantes do cinema também fariam 100 anos em 2020: o crítico francês e estudioso de cinema André Bazin, o ator norte-americano Walter Mathau e o ator e diretor brasileiro Anselmo Duarte, o único que pôde ostentar a Palma de Ouro em Cannes pelo seu “O Pagador de Promessas”.  Aliás, que tal revê-lo e aos muitos filmes que ele estrelou, ao longo da vida artística? 

A arte e a literatura brasileiras estão presentes na vida de todos pelo trabalho de Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto, pelas gravações da magnífica cantora Elizeth Cardoso e pela pintora e escultura Lygia Clark.  Todos fariam 100 anos também.

A excepcional cantora portuguesa Amália Rodrigues também faz parte desse time de nascidos em 1920.  Assim como o escritor Isaac Asimov e Karol Wojtyla, o papa João Paulo II.

Se recuarmos 100 anos mais, vamos encontrar o nascimento de Friedrich Engels, o revolucionário alemão que compartilhou uma grande obra com Karl Marx (1818-1883).

Recuando mais 50 anos, chegamos ao maior homenageado da música neste ano. O gênio de Ludwig van Beethoven nasceu há 250 anos e será largamente executado ao longo de 2020 em todos os cantos do mundo e também no Brasil.  A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a OSESP, dará total destaque à obra de Beethoven.  Aliás, já vem fazendo isso desde o final do ano passado.

Em tempos de estupidez e ignorância, nada melhor do que celebrar a beleza da arte e da escrita.  Para lembrar que temos motivo de sobra para nos orgulharmos da humanidade.  Apesar de tudo.





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