A ÁRVORE DOS FRUTOS SELVAGENS (Ahlat Agaci). Turquia, 2018. Direção: Nuri Bilge Ceylan. Com Aydin Dogu Demirkol, Murat Cemcir, Bennu
Yildirimlar, Hazar Ergüçiü. 188 min.
“A Árvore dos Frutos Selvagens” é o novo
trabalho do diretor turco Nuri Bilge Ceylan, que prima por imagens de grande
elaboração e beleza nos seus filmes.
Enriquece o seu apuro visual com locações na Anatólia, a região turca de
sua origem, que tem paisagens exuberantes.
É, portanto, com grande prazer que vemos a natureza magnificamente
enquadrada, as expressões humanas se revelando, em meio a um ambiente amplo,
mostrado por planos gerais e panorâmicas, mas também por detalhes
significativos do contexto cultural abordado.
Não fica por aí. Ceylan discute o mundo contemporâneo e a
conquista da identidade, a partir do personagem Sinan, um jovem que deixou sua
aldeia para estudar em Istambul e encontrar sua paixão por literatura e o desejo
de se realizar como escritor. Mas o que
significa literatura, a quem ela interessa, que papel exerce hoje num mercado
tão distante de suas pretensões? E como
ele se vê, no contexto rural de sua origem?
Sua ex-namorada, seu pai endividado, os limites da vida na aldeia, que
papel tem tudo isso nessa jornada em busca de autoconhecimento e de realização
pessoal?
Como o islamismo é visto e compreendido pelos
jovens? Que polêmicas envolvem a
aceitação e a interpretação do Corão no contexto atual? Muitas reflexões filosóficas e debates sobre
a contemporaneidade, a vida e os projetos dos jovens, e também dos adultos,
fazem parte dos diálogos do filme. Como
se vê, é um produto artístico muito encorpado e consistente, em todos os seus
aspectos. Nuri Bilge Ceylan é, mesmo, um
dos maiores cineastas do cinema atual.
Faz filmes de longa duração, como este, que tem 188 minutos, mas que
envolve e encanta durante todo esse tempo.
Os filmes de Ceylan subvertem a narrativa
clássica e exigem do espectador tempo para fruir os eventos e descobrir o que
está submerso na ação. Em contra
partida, oferecem uma beleza visual permanente, de embasbacar os olhos. É cinema de altíssimo padrão, já várias vezes
reconhecido pelo Festival de Cannes, que em 2008 lhe conferiu o prêmio de
melhor diretor por “Três Macacos”, o Grande Prêmio do Júri, em 2011, por “Era
Uma Vez na Anatólia”, e a Palma de Ouro e prêmio da crítica do Festival de
Cannes, em 2014, por “Sono de Inverno”.
“A Árvore dos Frutos Selvagens” foi exibido na
42ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo que, em várias oportunidades,
também premiou o cineasta. Ao levantar
os destaques daquele evento, apontei o filme como o melhor entre os exibidos
que pude ver. Tem um requinte e uma
qualidade técnica admiráveis.
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