domingo, 28 de abril de 2019

O ÚLTIMO LANCE

Antonio Carlos Egypto


O ÚLTIMO LANCE (Tunternaton Mestari).  Finlãndia, 2018.  Direção: Klaus Häro.  Com Heikki Nousiainen, Amos Brotherus, Pirjo Lonka.  95 min.





“O Último Lance” é uma das poucas possibilidades de assistir a filmes finlandeses na tela grande (ou em qualquer tela, na verdade).  É um bom trabalho, que dá chance para pensarmos em questões de relacionamento familiar e geracional e nas relações da arte com o mercado.

O personagem Olavi (Heikki Nousiainen), de 72 anos, é  marchand, dono de uma antiga loja de arte figurativa, em Helsinki.  Ele cuida da loja, como sempre fez há muitos anos, no estilo mais tradicional, mas com muito cuidado e carinho.  É um amante das artes, muito dedicado a elas.  Dedicação que falta em relação a sua própria família, filha e neto.

Pressionado a admitir seu neto de 15 anos, Otto (Amos Brotherus), como estagiário em seu negócio, ele aprenderá a conviver, mesmo que inicialmente a contragosto, com as novidades tecnológicas, o informalismo e o dinanismo do jovem.  O que acabará por lhe ser muito útil, quando ele resolver tentar um lance arriscado, que sua experiência lhe recomenda.  Mas que pode ser o fim de seu comércio, já cambaleante há tempos.




Será também uma oportunidade de rever erros passados e encontrar novos caminhos para o relacionamento familiar conturbado, especialmente com a filha Léa (Pirjo Lonka).  A injeção de sangue jovem de seu neto será reveladora de que sempre é preciso estar aberto ao mundo, superar preconceitos, aceitar e valorizar a ajuda, ao mesmo tempo em que também é necessário  defender–se da malandragem e da falta de ética que pululam no chamado mercado.  Bem turbinado nos dias atuais.

O valor da arte, no caso da pintura, no mercado tem muito de especulativo na venda de coisas como confiança, autenticidade, assinaturas legítimas ou ausentes.  Tal como ações na Bolsa, os leilões podem trazer grandes ganhos ou grandes prejuízos.  Enriquecimento ou ruína.

“O Último Lance” desenvolve uma narrativa tradicional, acompanhando seu protagonista.  Mas tem uma bela fotografia, em tons dourados e escuros, que remete à arte pictórica que é o centro da trama.  Tem um grande ator no papel central, um jovem ator que dá conta do recado, uma atriz intensa nas emoções.  Enfim, um elenco capaz de nos transmitir a importância e o significado do afeto nas vidas humanas.  Todo o suspense que o filme apresenta está escorado na questão afetiva, enquanto a pintura ocupa o primeiro plano, especialmente a de Llya Repin (1844-1930).




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